04 setembro, 2006

Fuga

"Podia esperar de qualquer um essa fuga, esse fechamento. Mas não em você, se sempre foram de ternuras nossos encontros e mesmo nossos desencontros não pesavam, e se lúcidos nos reconhecíamos precários, carentes, incompletos. Meras tentativas, nós. Mas doces. Por que então assim tão de repente e duro, por quê?
Seria isso, então?
Você só consegue dar quando não é solicitado, e quando pedem algo você foge em desespero.
Como se tivesse medo de ficar mais pobre, medo de que se alcance seu centro e nesse centro exista alguma coisa que você não quer mostrar nem dar ou dividir.
Contido, dissimulado, você esconde essa coisa, será assim?"

Diálogo, Inventário do Ir-remediável, Caio Fernando Abreu

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