30 julho, 2007


Estou INSUPORTAVELMENTE FELIZ!!!
É o amor...

26 julho, 2007

Cantiguinha

Meus olhos eram mesmo água,
— te juro —
mexendo um brilho vidrado,
verde-claro, verde-escuro.
Fiz barquinhos de brinquedo,
— te juro —
fui botando todos êles
naquele rio tão puro.
Veiu vindo a ventania,
— te juro —
as águas mudam seu brilho,
quando o tempo anda inseguro.
Quando as águas escurecem,
— te juro —
todos os barcos se perdem,
entre o passado e o futuro.
São dois rios os meus olhos,
— te juro —
noite e dia correm, correm,
mas não acho o que procuro.

Cecília Meireles

24 julho, 2007


Coisas que NUNCA vou saber explicar...
Sentimento.
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

23 julho, 2007

Por que não ataca o tubarão as impávidas sereias?
É verdade que o âmbar contém as lágrimas das sereias?
As lágrimas que não se choram esperam em pequenos lagos?
Onde encontrar um sino que soe dentro de teus sonhos?

(Livro das Perguntas, Pablo Neruda)

14 julho, 2007

Um dos meus poemas prediletos:

Posso escrever os versos mais tristes esta noite/ Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros lá ao longe"/ O vento da noite gira no céu e canta/ Posso escrever os versos mais tristes esta noite/ Eu amei-a e por vezes ela também me amou/ Em noites como esta tive-a em meus braços/ Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito/ Ela amou-me, por vezes eu também a amava/ Como não ter amado os seus grandes olhos fixos/ Posso escrever os versos mais tristes esta noite/ Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi/ Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela/ E o verso cai na alma como no pasto o orvalho/ Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la/ A noite está estrelada e ela não está comigo/ Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe/ A minha alma não se contenta com havê-la perdido/ Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a/ O meu coração procura-a, ela não está comigo/ A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores/ Nós dois, os de então, já não somos os mesmos/ Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei/ Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido/ De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos/ A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos/ Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda/ É tão curto o amor, tão longo o esquecimento/ Porque em noites como esta tive-a em meus braços/ a minha alma não se contenta por havê-la perdido/ Embora seja a última dor que ela me causa/ e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda
De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.

Adélia Prado

12 julho, 2007

É como se minha vida fosse magicamente dirigida por duas correntes elétricas: contente positiva e desesperançada negativa — a que estiver em ação no momento domina minha vida, inunda-a. Agora estou inundada de desespero, quase histeria, como se estivesse sufocando. Como se uma grande coruja musculosa estivesse sentada em meu peito.

Sylvia Plath

06 julho, 2007

02 julho, 2007


E eu mordo!!!
Ocorrência

Aí o homem sério entrou e disse: bom-dia
aí o outro homem sério respondeu: bom-dia
aí a mulher séria respondeu: bom-dia
aí todos riram de uma vez menos as duas cadeiras, a mesa, o jarro, as flores, as paredes, o relógio, a lâmpada, o retrato, os livros, o mata-borrão, os sapatos, as gravatas, as camisas, os lenços.

Ferreira Gullar

01 julho, 2007

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma avede rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade