29 março, 2007

Chico Buarque - Atrás da Porta
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
Só pra provar que ainda sou tua

28 março, 2007

Ah, meu Anjo da Guarda, guarda-me das dores.
Mas não de todas elas.
Guarda-me apenas das dores inúteis!

Dia ruim!!!

21 março, 2007

Hoje é dia internacional da poesia!!!! Então vamos lá:


Segue o teu destino

Segue o teu destino
Rega as tuas plantas
Ama as tuas rosas
O resto é a sombra
De árvores alheias

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.

Suave é viver só
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses

Vê de longe a vida
Nunca a interrogues
A resposta está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração
Os deuses são deuses
Porque não se pensam

Ricardo Reis, 1-7-1916
Ricardo Reis (1887 - 1935) é um dos três heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa.

20 março, 2007

Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo.
Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palvras e lágrimas. Sem pausa para a reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo múrmurio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.

Samuel Becket, in "Textos para Nada"

14 março, 2007

Desabafo

Ando terrivelmente inquieta.
Faço mal aos outros também.
Será possível amar as pessoas para sempre?
Sem tempo, sem dia ruim, sem exigir o mesmo amor de volta?
Como me defender dos meus próprios medos e angústias?
Estou passando pela vida sem entender absolutamente nada...
Sou prisioneira desses pensamentos que insistem em me perturbar.
Banho frio, vida fria, deito, leio, durmo, acordo e passo os dias sem saber como estou passando os dias.
Estou tão vazia. Tão igual.
Pensamento solitário.
Ausente.
Confusa.
Perigosa para mim mesma.
Amor... o amor...
Certeza? Onde?
Venha, minta se for preciso.
Ate quando tudo será tão vago em minha vida?
Nem sempre temos aquilo que queremos.
Nem sempre queremos aquilo que temos...
E assim vou seguindo, dia após dia..
Tão sem graça...
Tão vazia...

12 março, 2007

Narciso de Michelangelo Caravaggio

"...Ela olha para ela em vez de olhar para ti, e por isso não te conhece. Durante as duas ou três pequenas explosões de paixão que ela se permitiu a teu favor, ela, por um grande esforço de imaginação, viu em ti o herói dos seus sonhos, e não tu mesmo como realmente és..."
Le Rouge et le Noir - Stendhal (1830)

06 março, 2007

"... Não que estivesse triste, só não sentia mais nada..." - CFA