11 dezembro, 2011

Sobre a Angústia

PORQUE A ANGÚSTIA, MEU AMOR, É ESSA TRISTEZA SEM ROSTO, SEM ACONTECIMENTO, SEM DESENCADEADOR, SEM RÉU. É DE REPENTE NÃO CABER EM LUGAR ALGUM E ESCREVER ESSE AMONTOADO DE PALAVRAS MAGOADAS COM NINGUÉM. ESSA ANGÚSTIA A GENTE NÃO PUXA, NÃO ESCOLHE, ELA ENTRA NA GENTE ASSIM COMO A NOITE CAINDO LENTA E DEFINITIVA. E ELA APERTA TEU PEITO COM TODA DISPOSIÇÃO DO MUNDO. ANGÚSTIA TE TIRA DO MUNDO DE FORA, TE DEIXA ENCOLHIDO OLHANDO PRA DENTRO, PORQUE NÃO SE PODE APONTAR O DEDO E NEM COLOCAR A CULPA EM NINGUÉM, ELA SIMPLESMENTE É ESSE MAL-ESTAR QUE TE FAZ QUERER MUDAR TUDO DE LUGAR E SE FAZER ALGUNS AJUSTES. VOCÊ NÃO VAI CONSEGUIR SEQUER FINGIR QUE ESTÁ BEM SE ELA TE ABRAÇAR. ANGÚSTIA TE DEIXA ENFASTIADO COM A PRÓPRIA ROTINA, COM O SEU JEITO ANTIGO DE CONDUZIR AS COISAS. ELA TE PEDE MORTE E RENOVAÇÃO. ELA TE IMPÕE UMA PERDA IRREMEDIÁVEL DO QUE VOCÊ ERA ANTES, ELA TE FORÇA A TROCAR DE PELE COMO SE VOCÊ TIVESSE TOMADO MUITO SOL …SEM PROTEÇÃO. O QUE A ANGÚSTIA QUER DE VOCÊ É A DESACELERAÇÃO PRA PARAR E CONTEMPLAR E AGIR DE ACORDO COM O QUE PEDE A TUA SEDE DE ALMA…

ELA VEM PRA GRITAR AQUILO QUE SEU CORAÇÃO SUSSURROU TANTAS VEZES NUM MOMENTO EM QUE VOCÊ PENSAVA ESTAR OCUPADO DEMAIS PARA OUVIR.

- Marla de Queiroz

29 novembro, 2011

Tudo passa...

Final de ano para me recompor,
esquecer o que passou,
aceitar o que virá,
me fortalecer pra não cometer os mesmos erros...
E ser feliz!

25 novembro, 2011

Já posso morrer!

‎"Moça, Olha só, o que eu te escrevi
É preciso força pra sonhar e perceber
Que a estrada vai além do que se vê"
Marcelo Camelo

08 outubro, 2011

"Apaga-me os olhos, ainda posso ver-te. Tranca-me os ouvidos, ainda posso ouvir-te, e sem pés posso ainda ir para ti, e sem boca posso ainda invocar-te. Quebra-me os ossos, e posso apertar-te com o coração como com a mão, tapa-me o coração, e o cérebro baterá, e se me deitares fogo ao cérebro, hei-de continuar a trazer-te no sangue."


Rainer Marie Rilke, in Livro das Horas

07 outubro, 2011

Chamo-Te




Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que não quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.




Sophia de Mello Breyner Andresen

29 setembro, 2011

Pare de viver sua vida como se estivesse num filme.
Pare de idealizar seu amor em vez de encontrá-lo.
O amor não é sempre como um raio, as vezes é só uma escolha.
Talvez o amor verdadeiro seja uma decisão.
Decisão de correr risco com alguém.
Dar-se, sem se preocupar se vão dar algo em troca ou magoar você ou se é a pessoa certa.
Talvez o amor não seja algo que aconteca, talvez seja apenas uma escolha.

(Amor e outros Desastres)

21 setembro, 2011

"Ás vezes é preciso dormir, dormir muito. Não pra fugir, mas pra descansar a alma dos sentimentos. Quem nasceu com a sensibilidade exacerbada sabe quão difícil é engolir a vida. Porque tudo, absolutamente tudo devora a gente. Inteira."

Marla de Queiroz

05 setembro, 2011

Mudanças

Mudanças de planos.
Mudanças de ares.
Mudança de atitude.
Mudança de sentimento.






26 agosto, 2011

Estou apaixonada!

Pensei pensei pensei...
E percebi que não adianta eu me segurar, me controlar e não me apaixonar. Fazendo isso só estou me privando de viver e sentir coisas fantásticas. Não importa se a outra pessoa não sente a mesma coisa, não importa se ela não sabe demonstrar. O que importa é o que eu vou sentir, o que faz o meu coração bater mais forte, me faz tremer, suar, esperar por ele... E sentir tudo isso é maravilhoso. Já me apaixonei muitas vezes, já sofri tantas outras, e estou aqui firme e forte (oi?), não morri e não vai ser mais um tombo, caso ele exista, que vai me derrubar de vez.
Se tem uma coisa que sou é forte e persistente. Busco e sempre vou buscar o amor em minha vida. Essa felicidade que sempre vai me tornar ainda mais feliz.
Vou viver assim daqui pra frente, sem medo de me machucar, sofrer ou fazer papel de ridícula.
Vou viver tudo o que esse relacionamento vai me dar, me ensinar... independente do que quer que seja. Sorrisos ou lágrimas.

08 agosto, 2011

Lonely...

Quando você percebe que a única pessoa que nunca vai te deixar só, é você mesmo...

30 julho, 2011

"Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós."

Manoel de Barros

20 julho, 2011

Esta Velha Angústia - Álvaro de Campos

Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer -
Júpiter, Jeová, a Humanidade -
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!

05 julho, 2011

Amar prescinde de entendimento

"Não consigo imaginar nada mais satisfatório do que amar, e mesmo não sabendo o que o amor significa, sei o que representa. É o que nos faz, no meio de uma multidão, destacar alguém que se torna essencial para nosso bem - estar, e o nosso para ele. É receber uma atenção exclusiva e ofertá-la na mesma medida. Ter uma intimidade milagrosa com a alma de alguém, com o corpo de alguém, e abrir-se para essa mesma pessoas de um jeito que não se conseguiria jamais abrir para si mesmo, porque só o outro é que tem a chave desse cofre. O amor é uma subversão, e seu vigor nunca será encontrado em amizades ou parentescos. Todas as palavras já foram usadas para defini-lo: magia, surpresa, visceralidade, entrega, conforto, poesia, aposta, amasso, gozo.
Amar prescinde de entendimento. Por isso não sei amar, porque sou viciada em entender."


Martha Medeiros em Fora de Mim

15 junho, 2011

"Com a lucidez dos embriagados, haviam-se reconhecido desde o primeiro momento. Ou talvez estivessem realmente destinados um ao outro, e mesmo Sem o álcool, numa rua repleta saberiam encontrar-se. O fulgor nos olhos e a incerteza intensificada nos passos fora a pergunta de um e a resposta de outro”

Caio Fernando Abreu in O Inventário do Ir-remediável

07 junho, 2011

"Todo esse tempo de dor que eu passei andando por aí, todo esse tempo que eu tentei gritar a palavra amor bem alto. Pra ver se me convencia de uma vez do significado implícito nessas quatro letras. Esfregando na cara das pessoas as coisas boas que eu tinha, mas não conseguia mostrar. Até que o tempo enfim foi me vencendo, sob o olhar condescendente das pessoas que eu mais detestava. É duro reconhecer que todo esse sofrimento foi em vão, porque não existe vida quando a gente está triste e só e ninguém quer saber de quem está por baixo. Não vale a pena sofrer, meu amor, de tudo o que eu passei, essa foi a única lição."


Cazuza

04 junho, 2011



Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura. Grave e metódica até à mania, atenta a todas as subtilezas dum raciocínio claro e lúcido, não deixo, no entanto, de ser uma espécie de D. Quixote fêmea a combater moinhos de vento, quimérica e fantástica, sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida, num dom de mim própria que não acaba, que não desfalece, que não cansa!
Florbela Espanca

03 junho, 2011

"Sou dessa leva de gente que tem como sina ver demais.
Sentir demais.
Amar quase do tamanho do amor.

Alguns sentem vida, sentem beleza, sentem amor, com doses de conta-gotas.
Eu, não: é uma chuvarada dentro de mim."

Ana Jácomo

28 maio, 2011

"Não espero nenhum olhar, não espero nenhum gesto, não espero nenhuma cantiga de ninar. Por isso estou vivo. Pela minha absoluta desesperança, meu coração bate ainda mais forte. Quando não se tem mais nada a perder, só se tem a ganhar. Quando se para de pedir, a gente está pronto para começar a receber. O futuro é um abismo escuro, mas pouco importa onde terminará a minha queda. De qualquer forma, um dia seremos poeira. Quem é você? Quem sou eu? Sei apenas que navegamos no mesmo barco furado, e nosso porto é desconhecido. Você tem seus jeitos de tentar. Eu tenho os meus. Não acredito nos seus, talvez também não acredite nos meus próprios. Não lhe peço que acredite em mim”.

Caio Fernando Abreu

17 maio, 2011

Amar é Punk - Fernanda Mello

Eu já passei da idade de ter um tipo físico de homem ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse estranho (bem estranho). Tivesse um figurino perturbado. Gostasse de rock mais que tudo. Tivesse no mínimo um piercing (e uma tatuagem gigante). Soubesse tocar algum instrumento. E usasse All Star. Uma coisa meio Dave Grohl. Hoje em dia eu continuo insistindo no quesito All Star e rock´n roll, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de acreditar em “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece o cara. Começa, aos poucos, a admirá-lo. A achá-lo foda. E, quando vê, você tá fazendo coraçãozinho com a mão igual uma pangaré. (E escrevendo textos no blog para que ele entenda uma coisa: dessa vez, meu caro, é diferente). Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ele vai esquecer todo mês o aniversário de namoro, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu pão-de-sal bem branco (e com muito queijo). Ele não vai fazer declarações românticas e jantares à luz de vela, mas vai saber que você está de TPM no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez. Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. DA PAIXÃO, NÃO. Depois de anos escrevendo sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. EU QUERO ALGUÉM QUE DIVIDA O CHÃO COMIGO. QUERO ALGUÉM QUE ME TRAGA FÔLEGO. Entenderam? Quero dormir abraçada sem susto. Quero acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas. Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e meus futuros livros iriam pra seção B da auto-ajuda, com um monte de margaridinhas na capa. Mas, caramba! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, no meu caso, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesma que não tinha acontecido. Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrão. Amor é reconstrução.É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios. Demorei anos pra concordar com meu querido Cazuza: “eu quero um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”. Antes, ao ouvir essa música, eu sempre pensava (e não dizia): porra, que tédio! Ah, Cazuza! Ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar - ah, o amor! - AMAR É PUNK.

12 maio, 2011




" Tão logo essa palavra ''amor'' lhe ocorreu, ela a rejeitou."
[ Virgínia Woolf ]

10 maio, 2011

Marcas do Eterno - Pde. Fabio de Melo

Antes de você entrar na minha vida
De se decidir por mim
Por minha história
Haverá de ter clareza de saber bem
Quem eu sou
Pra depois não me dizer
Ter se enganado

Eu não posso ser o que você quiser
Sou bem mais do que os seus olhos
Podem ver
Se quiser seguir comigo
Eu lhe estendo a mão
Mas não pode um só momento
Se esquecer

Sou consagrado ao meu Senhor
Solo sagrado eu sei que sou
Vida que o céu sacramentou
Marcas do eterno estão em mim
Antes do seu amor chegar
Um outro amor já me encontrou
E me envolveu com tanta luz
Que já não posso me esquecer

Se mesmo assim quiser ficar
Seja bem vindo ao meu lugar
À este coração que resolveu
Plantar-se inteiro em Deus
E hoje não quer mais se aprisionar

Eu lhe peço que me ajude
A ser mais santo
Que por vezes me esqueça no meu canto
É que a minha santidade
Necessita solidão
Só assim minha presença
É mais saudável

Não me peça o que de mim
Pertence a Deus
Nem dê mais do que eu preciso receber
Ser amado em excesso
Faz tão mal quanto não ser
Eu lhe peço que me ajude a ser de Deus

04 maio, 2011

"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"
(Nietzsche, F.)

01 maio, 2011



"... e pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz!"

João e Maria (Chico Buarque)

27 abril, 2011

Se te queres matar - Álvaro de Campos

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?

Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...

26 abril, 2011

Hoje é aniversário de uma pessoa muito importante em minha vida.

Minha irmã. Minha tatatá.

Lú, felicidade é muito pouco pra você.

Você merece o infinito!!!

Te amo

25 abril, 2011

Tanto que fazer!
livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.

E os pássaros detrás de grades de chuva.
E os mortos em redoma de cânfora.

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos,
nem para quê.

(Cecília Meireles)

17 abril, 2011

Carlos Drummond de Andrade


Ainda que mal
Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entendas,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda, assim, pergunto:
me amas?
E me queimando em teu seio,
me salvo e me dano... ...
de amor.

13 abril, 2011

“Pra conhecer as coisas, há que dar-lhes a volta, dar-lhes a volta toda.” Saramago

11 abril, 2011

Suave é viver só...




Segue o teu destino,

Rega as tuas plantas.

Ama as tuas rosas.

O resto é a sombra

De árvores alheias.


A realidade

Sempre é mais ou menos

Do que nós queremos.

Só nós somos sempre

Iguais a nós próprios.


Suave é viver só.

Grande e nobre é sempre

Viver simplesmente

Deixa a dor nas aras

Como ex-voto aos deuses.


Vê de longe a vida

Nunca a interrogues.

Ela nada pode dizer-te.

A resposta

Está além dos deuses.


Mas serenamente

Imita o Olimpo

No teu coração.

Os deuses são deuses.

Porque não pensam.


Ricardo Reis, 1-7-1916

10 abril, 2011


“o que sei, não me serve. decoro o que não sei. relembro-me: deslumbro-me, desprezo-me. o querubim é um dragão, suas asas não se acabam. sempre ele me acha em falta ou no remorso de tanto lucidez. somos, anciãos, amargos. tão amargos, juntos, que temos de construir do nada — que é humano e nos envolve. a gente tem que tirar dele algo, pedaço de alto: alma, amor, lágrima ou poema." João Guimarães Rosa

09 abril, 2011

"Sou bandida

Sou solta na vida

E sob medida

Pros carinhos seus

Meu amigo

Se ajeite comigo

E dê graças a Deus"

Sob medida - Chico Buarque

05 abril, 2011

E vale a pena?
Ser responsável?
Porque se você toma os remédios, paga seus impostos, e nunca fura fila, o universo ainda lhe dá pessoas para amar. E depois as deixa escapar pelos seus dedos como água.
E o que sobra?
Remédios e mais nada.

Grey´s Anatomy - 7°Temporada - episódio 16

04 abril, 2011

Janta - Marcelo Camelo

Eu quis te conhecer, mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade


Eu quis te convencer, mas chega de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir
Pode ser a eternidade má
Caminho em frente pra sentir saudade


Paper clips and crayons in my bed
Everybody thinks that
I'm sad I'll take a ride in melodies and
bees and birds Will hear my words
Will be both us and you and them together


'Cause I can forget about myself
Trying to be everybody else
I feel allright that we can go away
And please my day I let you stay with me if you surrender


Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
(I can forget about myself Trying to be everybody else)
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
(I feel all right that we can go away)
Pode ser a eternidade má (And please my day)
Eu ando sempre pra sentir vontade.
(I'll let you stay with me if you surrender

03 abril, 2011

Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Ferreira Gullar

02 abril, 2011

Coração de eterno flerte, adoro ver-te...

Se eu ligasse pra você...

“Olha, estou escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem sempre que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa. Hoje eu achei que ia conseguir, que ia conseguir dizer, quero dizer, dizer tudo aquilo que escondo desde a primeira vez que vi você…" Caio F. Abreu



O mais triste é que se eu ligasse, se você atendesse, se você escutasse tudo o que tenho guardado aqui dentro, você fingiria que nada tinha ouvido...

31 março, 2011

Alice: Quanto tempo dura o que é eterno?

Coelho: Às vezes, apenas um segundo.

30 março, 2011

Quando um não quer,

aí é que os dois brigam.


Carpinejar

28 março, 2011

E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e

ridícula o suficiente para estar procurando o verdadeiro amor.

Caio F Abreu

25 março, 2011

"Carlos, sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será."

Drummond de Andrade

24 março, 2011

"Dá um certo trabalho decodificar todas as emoções
contraditórias, confusas, somá-las, diminuí-las e tirar essa
síntese numa palavra só, esta: gosto."

Caio Fernando Abreu

21 março, 2011

Harold And Maude (1971)



"You only need to know
Well if you want to say yes, say yes
And if you want to say no, say no
'Cause there's a million ways to go
You know that there are
And if you want to be me, be me
And if you want to be you, be you
'Cause there's a million things to do
You know that there are."

If You Want to Sing Out, Sing Out
Cat Stevens

20 março, 2011

E o pavor do doce Quaresma?

Quem uma vez esteve diante deste enigma indecifrável da nossa própria natureza, fica amedrontado, sentindo que o gérmen daquilo está depositado em nós e que por qualquer coisa ele nos invade, nos toma, nos esmaga e nos sepulta numa desesperadora compreensão inversa e absurda de nós mesmos, dos outros e do mundo. Cada louco traz em si o seu mundo e para ele não há mais semelhantes: o que foi antes da loucura é outro muito outro do que ele vem a ser após.

E essa mudança não começa, não se sente quando começa e quase nunca acaba. Com o seu padrinho, como fora? A princípio, aquele requerimento... Mas que era aquilo? Um capricho, uma fantasia, coisa sem importância, uma idéia de velho sem conseqüência. Depois, aquele ofício? Não tinha importância, uma simples distração, coisa que acontece a cada passo... E enfim? A loucura declarada, a torva e irônica loucura que nos tira a nossa alma e põe uma outra, que nos rebaixa... Enfim, a loucura declarada, a exaltação do eu, a mania de não sair, de se dizer perseguido, de imaginar como inimigos, os amigos, os melhores. Como fora doloroso aquilo! A primeira fase do seu delírio, aquela agitação desordenada, aquele falar sem nexo, sem acordo com que se realizava fora dele e com os atos passados, um falar que não se sabia donde vinha, donde saia, de que ponto do seu ser tomava nascimento! E o pavor do doce Quaresma? Um pavor de quem viu um cataclismo, que o fazia tremer todo, desde os pés à cabeça e enchia-o de indiferença para tudo mais que não fosse o seu próprio delírio.

Triste Fim de Policarpo Quaresma - Lima Barreto

16 março, 2011

Clint Eastwood in The Bridges of Madison County (1995)

Detalhe que me fez lembrar você.
“Tomara que apesar dos apesares todos, a gente continue tendo valentia
suficiente para não abrir mão de se sentir feliz.”

Ana Jácomo

15 março, 2011

-Ora! A senhora não sabe que há almas que vivem atormentadas? Precisam sucessivamente do sonho e da ação, das paixões mais puras, dos gozos mais furiosos, e jogam-se em todo tipo de fantasia, de loucuras.
-Nós mulheres, não temos nem essa distração!
-Triste distração, pois nela não encontramos a felicidade.
-Mas não a encontramos nunca?
-Sim, um dia a encontramos. Ela chega um dia, um dia de repente, quando já estamos ficando deseperados. Então os horizontes se entreabrem, é como se uma voz gritasse: "Ei-la!" Sentimos nossa a necessidade de fazer a pessoa a confidência de nossa vida; de dar-lhe tudo, de sacrificar-lhe tudo! Isso não se explica, mas o adivinhamos. Já avistamos isso em sonhos. Enfim, ele está ali, o tesouro que tanto buscamos; ele brilha, faísca. No entanto, ainda duvidamos, não ousamos acreditar; ficamos deslumbrados, como se saíssemos das trevas à luz.

Dialógo entre Rodolphe e Madame Bovary.
Madame Bovary - Gustave Flaubert (1857)

Saudade.
Vontade de te ver.
Vontade de ir te ver.
Saudade.

13 março, 2011

A Espantosa Realidade das Cousas - Alberto Caeiro

A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. naturalmente.

Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade
“De onde vem essa iluminação que chamam de amor, e logo depois se contorce, se enleia, se turva toda e ofusca e apaga e acende feito um fio de contato defeituoso, sem nunca voltar àquela primeira iluminação?”

Caio Fernando Abreu

12 março, 2011


"Quem não dança conforme o ritmo da casa,
não perca tempo tocando a campainha."
Maria Bethânia - no show Drama – Luz da noite

Vinícius de Moraes in Para Viver um Grande Amor

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito…

09 março, 2011

O Lutador - Carlos Drummond de Andrade


Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem 3 há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.

Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhes-ei escravo
de rara humildade.
Guardarei sigilo
de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo
de zanga ou desgosto.
Sem me ouvir deslizam,
perpassam levíssimas
e viram-me o rosto.
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue…
Entretanto, luto.

Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
Quisera possuir-te
neste descampado,
sem roteiro de unha
ou marca de dente
nessa pele clara.
Preferes o amor
de uma posse impura
e que venha o gozo
da maior tortura.

Luto corpo a corpo,
luto todo o tempo,
sem maior proveito
que o da caça ao vento.
Não encontro vestes,
não seguro formas,
é fluido inimigo
que me dobra os músculos
e ri-se das normas
da boa peleja.

Iludo-me às vezes,
pressinto que a entrega
se consumará.
Já vejo palavras
em coro submisso,
esta me ofertando
seu velho calor,
aquela sua glória
feita de mistério,
outra seu desdém,
outra seu ciúme,
e um sapiente amor
me ensina a fruir
de cada palavra
a essência captada,
o sutil queixume.
Mas ai! é o instante
de entreabrir os olhos:
entre beijo e boca,
tudo se evapora.

O ciclo do dia
ora se conclui 8
e o inútil duelo
jamais se resolve.
O teu rosto belo,
ó palavra, esplende
na curva da noite
que toda me envolve.
Tamanha paixão
e nenhum pecúlio.
Cerradas as portas,
a luta prossegue
nas ruas do sono.

Grata, vida.


Por mais um ensinamento!

06 março, 2011

Desde 2006 conhecendo essa viagem...

"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: ‘Não há mais o que ver’, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre."

José Saramago
.
.
Há muito o que se ver ainda... muito. Ver outra vez o que já foi visto. A história não acaba nunca.

05 março, 2011

Ismália - Alphonsus de Guimaraens (1870 - 1921)

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
A Catedral

Entre brumas ao longe surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral eburnea do meu sonho
Aparece na paz do ceu risonho
Toda branca de sol.
E o sino canta em lugebres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma aurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz
A catedral eburnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tao cansados ponho,
Recebe a bencao de Jesus.
E o sino clama em lugebres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!
" Por entre lirios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Poe-se a luz a rezar.
A catedral eburnea do meu sonho
Aparece na paz do ceu tristonho
Toda branca de luar.
E o sino chora em lugebres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
O ceu e todo trevas: o vento uiva.
Do relampago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral eburnea do meu sonho
Afunda-se no caos do ceu medonho
Como um astro que ja morreu.
E o sino chora em lugebres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus! "

Hão de Chorar por Ela os Cinamomos...

Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão — "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria.. .
" E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"

Cantem outros a clara cor virente

Cantem outros a clara cor virente
Do bosque em flor e a luz do dia eterno...
Envoltos nos clarões fulvos do oriente,
Cantem a primavera: eu canto o inverno.
Para muitos o imoto céu clemente
É um manto de carinho suave e terno:
Cantam a vida, e nenhum deles sente
Que decantando vai o próprio inferno.
Cantem esta mansão, onde entre prantos
Cada um espera o sepulcral punhado
De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos...
Cada um de nós é a bússola sem norte.
Sempre o presente pior do que o passado.
Cantem outros a vida: eu canto a morte...

Soneto

Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto,
Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março,
Brilhasse o luar que importa? ou fosse o sol já posto,
No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.

Que saudades de amor na aurora do teu rosto!
Que horizonte de fé, no olhar tranqüilo e garço!
Nunca mais me lembrei se era no mês de agosto,
Setembro, outubro, abril, maio, janeiro, ou março.

Encontrei-te. Depois... depois tudo se some
Desfaz-se o teu olhar em nuvens de ouro e poeira.
Era o dia... Que importa o dia, um simples nome?

Ou sábado sem luz, domingo sem conforto,
Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira,
Brilhasse o sol que importa? ou fosse o luar já morto?

Sentindo uma leve brisa...


28 fevereiro, 2011

Coragem, às vezes, é desapego.

“Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. É permitir que voe sem que nos leve junto. É aceitar que a esperança há muito se desprendeu do sonho. É aceitar doer inteiro até florir de novo. É abençoar o amor, aquele lá, que a gente não alcança mais.”


Ana Jácomo

25 fevereiro, 2011

Santa Chuva
Maria Rita
Composição: Marcelo Camelo

(ele)
Vai chover de novo
Deu na TV
Que o povo já se cansou
De tanto o céu desabar
E pede a um santo daqui
Que reza a ajuda de Deus
Mas nada pode fazer
Se a chuva quer é trazer você pra mim
Vem cá, que tá me dando uma vontade de chorar
Não faz assim
Não vá pra lá
Meu coração vai se entregar
À tempestade...

(ela)
Quem é você pra me chamar aqui
Se nada aconteceu?
Me diz?
Foi só amor? Ou medo de ficar
Sozinho outra vez?
Cadê aquela outra mulher?
Você me parecia tão bem...
A chuva já passou por aqui
Eu mesma que cuidei de secar
Quem foi que te ensinou a rezar?
Que santo vai brigar por você?
Que povo aprova o que você fez?
Devolve aquela minha TV
Que eu vou de vez
Não há porque chorar
Por um amor que já morreu
Deixa pra lá
Eu vou, adeus
Meu coração já se cansou de falsidade...

23 fevereiro, 2011


“O tempo, de vento em vento, desmanchou o penteado arrumadinho de várias certezas que eu tinha, e algumas vezes descabelou completamente a minha alma. Mesmo que isso tenha me assustado muito aqui e ali, no somatório de tudo, foi graça, alívio e abertura(...) A gente precisa é saber criar espaço, não importa o tamanho dos apertos”
Ana Jácomo

22 fevereiro, 2011


http://www.umsabadoqualquer.com/

Enquanto finjo, enquanto fujo...

Cuida de mim enquanto não esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto finjo, enquanto fujo.


Cuida de mim
O Teatro Mágico

20 fevereiro, 2011

Sobriedade

É muito bonito pensar que o amor é algo sublime, sem fronteiras nem limitações. É muito confortável acreditar que uma relação se desenvolve de forma mágica e que está sempre na mão de Deus, como se fôssemos bonecos pendendo de fios de nylon. Mas a realidade não é essa.


Amor não é feito de arroubos, de declarações cinematográficas em público nem de um número musical de filme indiano. Isso é outra coisa. Pode ser paixão, tesão, drogas, álcool ou pura insegurança. Ninguém decide um dia que vai se libertar para o amor. Aquela coisa de acordar, abrir as janelas e contemplar o sol achando que assim o amor vai bater à sua porta é pura euforia. E euforia é um tipo de doença que cega e nos distancia de nós mesmos.


Abra as janelas e contemple o sol, sim. Por você, pelo sol, pela janela, pelos vizinhos, mas não guarde muitas expectativas. Esse amor que você busca do outro lado da sua janela não precisa ser encontrado. Ele nem amor é. Não passa de uma ilusão que as obras de ficção nos fizeram acreditar que existia, um engano confortável, um consolo para os acomodados de que o outro pode magicamente lhes fazer feliz. É quase um transe social.


As pessoas condicionadas a isso vivem histórias arrebatadoras, sentem-se elevadas por essa força sobrenatural, impulsionadas aos céus pelo que pensam sentir pelo outro. Tesão incontrolável, admiração incondicional, telefonemas, mensagens, flores, declarações em redes sociais, corações, bichos de pelúcia, um “ser feliz” que parece não acabar mais. Você fica com aquele olhar sorridente parado, semblante imutável, aquela cara de evangélico recém-saído do culto. Parabéns, você está apaixonado.


Mas, alto lá. Isso ainda não é amor. Viva essa relação uns 2 anos e depois a gente conversa. Aí que você vai saber se nela há respeito, se você manteve sua individualidade, suas metas, seus desejos e soube respeitar a individualidade, as metas e os desejos do outro. Mais importante do que isso: sentiu-se amado e respeitado? Compreendeu que toda aquela felicidade já estava dentro de você e que ela pode existir sem o outro? Tudo bem, agora que passou a histeria, você pode olhar com sobriedade para seu parceiro ou parceira e escolher se quer ou não viver essa relação.


Aí podemos falar de amor, esse sentimento tranquilo de querer o outro bem e sentir o mesmo. O amor só existe com sobriedade. Senão é como qualquer bebida, comida ou entorpecente, não passa de uma distração tola do mundo real, onde moram seus problemas, limitações, medos e conflitos familiares. Nem pense em entrar numa relação achando que vai fazer sumir seus fantasmas. É melhor enfrentá-los, por mais doloroso que isso seja, mesmo que leve algum tempo. Caso contrário, o que era para virar amor acaba se tornando mais uma complicação.


Daqui ô: http://fulgas.blogspot.com

17 fevereiro, 2011

Recaida:

Quando a saudade precisa recuperar detalhes.

(Carpinejar)

14 fevereiro, 2011

09 fevereiro, 2011

“Porque não me interessa a realidade, interessa-me se
é possível. Sendo possível, insisto.”

Fabricio Carpinejar

Já disse isso aqui antes...

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez".

Caio Fernando Abreu

07 fevereiro, 2011

A trégua - Mario Benedetti, 1960

"Eu talvez não me afastasse nem um milímetro do meu centro de sinceridade se lhe dissesse que o que estou buscando denodadamente é um acordo, uma espécie de combinação entre o meu amor e sua liberdade."

...

"É evidente que Deus me concedeu um destino escuro. Nem sequer cruel. Simplesmente escuro. É evidente que me concedeu uma trégua. No início, resisti a acreditar que isso pudesse ser a felicidade. Resisti com todas as minhas forças, depois me dei por vencido e acreditei. Mas não era a felicidade, era só uma trégua. Agora, estou outra vez metido no meu destino. E ele é mais escuro do que antes, muito mais."

06 fevereiro, 2011

Shakespeare e o Amor

...Quando fala o amor
Na voz dos deuses
Acalenta todo o céu
Com harmonia irresistível.
(Trabalhos de Amor Perdido)
...
É tão depressa assim
que se pega essa doença?
(Noite de Reis)
...
O amor, de fato, é só à primeira vista.
(Como Gostais)
...
Pelo céu, estou amando! e com isso aprendi a rimar
e a ser melancólico.
(Trabalhos de Amor Perdido)
...
Em tempo algum teve um tranqüilo
curso o verdadeiro amor.
(Sonho de uma Noite de Verão)
...
Boa noite! Boa noite! Boa noite! A despedida é dor,
tão doce, todavia, que te darei boa noite até que seja dia.
(Romeu e Julieta)
...
... no mesmo dia nós nos casaremos:
uma festa, uma casa, uma ventura.
(Os dois cavalheiros de Verona)

05 fevereiro, 2011


“Se não for hoje, um dia será. Algumas coisas, por mais impossíveis e malucas que pareçam, a gente sabe, bem no fundo, que foram feitas pra um dia dar certo.”

Caio Fernando Abreu

01 fevereiro, 2011

Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes –
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.

Grandes são os desertos, minha alma!
Grandes são os desertos.

Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (á parte o incómodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida.

Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem).
Acendo um cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens,
Para adiar o universo inteiro.

Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te presente absoluto!
Mais vale não ter que ser assim.

Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.

Mas tenho que arrumar a mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.
Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.

Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.

Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei-de arrumá-la e fechá-la;
Hei-de vê-la levar de aqui,
Hei-de existir independentemente dela.

Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.

Pobre da alma humana como oásis só no deserto ao lado!
Mais vale arrumar a mala.

Fim.


4/9/1930
(Fernando Pessoa – Álvaro de Campos, 2002, Poesia, pp. 384-386).

30 janeiro, 2011

Passarim - Tom Jobim

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro partiu mas não pegou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Me diz o que eu faço da paixão?
Que me devora o coração..
Que me devora o coração..
Que me maltrata o coração..
Que me maltrata o coração..

E o mato que é bom, o fogo queimou
Cadê o fogo? A água apagou
E cadê a água? O boi bebeu
Cadê o amor? O gato comeu
E a cinza se espalhou
E a chuva carregou
Cadê meu amor que o vento levou?
(Passarim quis pousar, não deu, voou)

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta, então me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração..
Que me alegrava o coração..
Que iluminava o coração..
Que iluminava a escuridão..

Cadê meu caminho? A água levou
Cadê meu rastro? A chuva apagou
E a minha casa? O rio carregou
E o meu amor me abandonou
Voou, voou, voou
Voou, voou, voou
E passou o tempo e o vento levou

Passarim quis pousar, não deu, voou
Porque o tiro feriu mas não matou
Passarinho, me conta então, me diz:
Por que que eu também não fui feliz?
Cadê meu amor, minha canção?
Que me alegrava o coração..
Que me alegrava o coração..
Que iluminava o coração..
Que iluminava a escuridão..
E a luz da manhã? O dia queimou
Cadê o dia? Envelheceu
E a tarde caiu e o sol morreu
E de repente escureceu
E a lua, então, brilhou
Depois sumiu no breu
E ficou tão frio que amanheceu
(Passarim quis pousar, não deu, voou)
Passarim quis pousar não deu
Voou, voou, voou, voou, voou

Noivo neurótico, noiva nervosa - Wody Allen - 1977

E me lembrei da velha anedota, do tipo que vai ao psiquiatra e diz:

"Doutor, meu irmão é maluco. Acha que é uma galinha.
E o médico diz:
E por que que não o interna?
E ele responde:
Até que internava, mas preciso dos ovos."
É mais ou menos o que sinto sobre relacionamentos.
São totalmente irracionais, loucos e absurdos... Mas nós vamos aguentando porque precisamos dos ovos!"

29 janeiro, 2011

"Eu, mal sabendo que esse — que parecia seu jeito mais falso de ser — seria nas semanas seguintes seu jeito mais verdadeiro, às vezes único."

Caio Fernando Abreu

26 janeiro, 2011

Estou falando de amor, e não da sua doença!

Eu podia ser seu espinho
Ser a pedra no seu caminho
Seu ciúme doentio
Mas eu estou falando de amor
Eu podia ser sua tara
A ferida que nunca sara
Te humilhar, te dar na cara
Mas eu estou falando de amor

Eu estou falando de amor
E não da sua doença
Falando de amor
Eu estou falando de amor
E não do que você pensa
Falando de amor

Eu podia ter o segredo
Pra te transformar num brinquedo
E te deixar morrendo de medo
Mas eu estou falando de amor
Eu podia ser seu escravo
Pra você deixar de quatro
Me fazer de gato e sapato
Mas eu estou falando de amor

Eu estou falando de amor
E não da sua doença
Falando de amor
Eu estou falando de amor
E não do que você pensa
Falando de amor

Eu podia ser um mistério
E viver cercado de estórias
Só te olhar do jeito mais sério
Mas eu estou falando de amor
Eu podia ser a ternura
Sem desejo, beijo, nem sexo
Ser somente a história mais pura
Mas eu estou falando de amor

Não sabia que era só por uma noite...


Me abraçou com tanto amor
me apertou com tanto fogo
me beijou, me consolou.

Depois riu devagarinho,
me disse adeus com a cabeça
e saiu. Fechou a porta.
Ouvi seus passos na escada.
Depois mais nada...
acabou.

Drummond de Andrade

24 janeiro, 2011

"Passava a vida a ver paixões falharem-lhe nas mãos como fósforos."
Carlos da Maia (Os Maias – Eça de Queiroz)

23 janeiro, 2011

Não acredito mais no amor
e essas coisas todas que dizem dele.


"Amor é fogo que arde sem se ver"
porque não arde, nem é fogo e nem se vê.
Amor é imaginar e depois crer
no que se imaginou amar e ver.

Ninguém ama ninguém senão a si,
e os amores que demonstram são apenas
no fundo, o grande (imenso!) amor que tem em si.

Tome um pouco do meu amor
e beba dele,
mas não se esqueça que não é você que ama.
Tome mais um gole
que o meu amor aumenta
como se fosse a mim que alimentasse
e não a quem com sede dele usasse.


Não acredito mais no amor
e essas coisas todas que é o amor.

Aclyse de Mattos