28 fevereiro, 2011

Coragem, às vezes, é desapego.

“Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. É permitir que voe sem que nos leve junto. É aceitar que a esperança há muito se desprendeu do sonho. É aceitar doer inteiro até florir de novo. É abençoar o amor, aquele lá, que a gente não alcança mais.”


Ana Jácomo

25 fevereiro, 2011

Santa Chuva
Maria Rita
Composição: Marcelo Camelo

(ele)
Vai chover de novo
Deu na TV
Que o povo já se cansou
De tanto o céu desabar
E pede a um santo daqui
Que reza a ajuda de Deus
Mas nada pode fazer
Se a chuva quer é trazer você pra mim
Vem cá, que tá me dando uma vontade de chorar
Não faz assim
Não vá pra lá
Meu coração vai se entregar
À tempestade...

(ela)
Quem é você pra me chamar aqui
Se nada aconteceu?
Me diz?
Foi só amor? Ou medo de ficar
Sozinho outra vez?
Cadê aquela outra mulher?
Você me parecia tão bem...
A chuva já passou por aqui
Eu mesma que cuidei de secar
Quem foi que te ensinou a rezar?
Que santo vai brigar por você?
Que povo aprova o que você fez?
Devolve aquela minha TV
Que eu vou de vez
Não há porque chorar
Por um amor que já morreu
Deixa pra lá
Eu vou, adeus
Meu coração já se cansou de falsidade...

23 fevereiro, 2011


“O tempo, de vento em vento, desmanchou o penteado arrumadinho de várias certezas que eu tinha, e algumas vezes descabelou completamente a minha alma. Mesmo que isso tenha me assustado muito aqui e ali, no somatório de tudo, foi graça, alívio e abertura(...) A gente precisa é saber criar espaço, não importa o tamanho dos apertos”
Ana Jácomo

22 fevereiro, 2011


http://www.umsabadoqualquer.com/

Enquanto finjo, enquanto fujo...

Cuida de mim enquanto não esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto finjo, enquanto fujo.


Cuida de mim
O Teatro Mágico

20 fevereiro, 2011

Sobriedade

É muito bonito pensar que o amor é algo sublime, sem fronteiras nem limitações. É muito confortável acreditar que uma relação se desenvolve de forma mágica e que está sempre na mão de Deus, como se fôssemos bonecos pendendo de fios de nylon. Mas a realidade não é essa.


Amor não é feito de arroubos, de declarações cinematográficas em público nem de um número musical de filme indiano. Isso é outra coisa. Pode ser paixão, tesão, drogas, álcool ou pura insegurança. Ninguém decide um dia que vai se libertar para o amor. Aquela coisa de acordar, abrir as janelas e contemplar o sol achando que assim o amor vai bater à sua porta é pura euforia. E euforia é um tipo de doença que cega e nos distancia de nós mesmos.


Abra as janelas e contemple o sol, sim. Por você, pelo sol, pela janela, pelos vizinhos, mas não guarde muitas expectativas. Esse amor que você busca do outro lado da sua janela não precisa ser encontrado. Ele nem amor é. Não passa de uma ilusão que as obras de ficção nos fizeram acreditar que existia, um engano confortável, um consolo para os acomodados de que o outro pode magicamente lhes fazer feliz. É quase um transe social.


As pessoas condicionadas a isso vivem histórias arrebatadoras, sentem-se elevadas por essa força sobrenatural, impulsionadas aos céus pelo que pensam sentir pelo outro. Tesão incontrolável, admiração incondicional, telefonemas, mensagens, flores, declarações em redes sociais, corações, bichos de pelúcia, um “ser feliz” que parece não acabar mais. Você fica com aquele olhar sorridente parado, semblante imutável, aquela cara de evangélico recém-saído do culto. Parabéns, você está apaixonado.


Mas, alto lá. Isso ainda não é amor. Viva essa relação uns 2 anos e depois a gente conversa. Aí que você vai saber se nela há respeito, se você manteve sua individualidade, suas metas, seus desejos e soube respeitar a individualidade, as metas e os desejos do outro. Mais importante do que isso: sentiu-se amado e respeitado? Compreendeu que toda aquela felicidade já estava dentro de você e que ela pode existir sem o outro? Tudo bem, agora que passou a histeria, você pode olhar com sobriedade para seu parceiro ou parceira e escolher se quer ou não viver essa relação.


Aí podemos falar de amor, esse sentimento tranquilo de querer o outro bem e sentir o mesmo. O amor só existe com sobriedade. Senão é como qualquer bebida, comida ou entorpecente, não passa de uma distração tola do mundo real, onde moram seus problemas, limitações, medos e conflitos familiares. Nem pense em entrar numa relação achando que vai fazer sumir seus fantasmas. É melhor enfrentá-los, por mais doloroso que isso seja, mesmo que leve algum tempo. Caso contrário, o que era para virar amor acaba se tornando mais uma complicação.


Daqui ô: http://fulgas.blogspot.com

17 fevereiro, 2011

Recaida:

Quando a saudade precisa recuperar detalhes.

(Carpinejar)

14 fevereiro, 2011

09 fevereiro, 2011

“Porque não me interessa a realidade, interessa-me se
é possível. Sendo possível, insisto.”

Fabricio Carpinejar

Já disse isso aqui antes...

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez".

Caio Fernando Abreu

07 fevereiro, 2011

A trégua - Mario Benedetti, 1960

"Eu talvez não me afastasse nem um milímetro do meu centro de sinceridade se lhe dissesse que o que estou buscando denodadamente é um acordo, uma espécie de combinação entre o meu amor e sua liberdade."

...

"É evidente que Deus me concedeu um destino escuro. Nem sequer cruel. Simplesmente escuro. É evidente que me concedeu uma trégua. No início, resisti a acreditar que isso pudesse ser a felicidade. Resisti com todas as minhas forças, depois me dei por vencido e acreditei. Mas não era a felicidade, era só uma trégua. Agora, estou outra vez metido no meu destino. E ele é mais escuro do que antes, muito mais."

06 fevereiro, 2011

Shakespeare e o Amor

...Quando fala o amor
Na voz dos deuses
Acalenta todo o céu
Com harmonia irresistível.
(Trabalhos de Amor Perdido)
...
É tão depressa assim
que se pega essa doença?
(Noite de Reis)
...
O amor, de fato, é só à primeira vista.
(Como Gostais)
...
Pelo céu, estou amando! e com isso aprendi a rimar
e a ser melancólico.
(Trabalhos de Amor Perdido)
...
Em tempo algum teve um tranqüilo
curso o verdadeiro amor.
(Sonho de uma Noite de Verão)
...
Boa noite! Boa noite! Boa noite! A despedida é dor,
tão doce, todavia, que te darei boa noite até que seja dia.
(Romeu e Julieta)
...
... no mesmo dia nós nos casaremos:
uma festa, uma casa, uma ventura.
(Os dois cavalheiros de Verona)

05 fevereiro, 2011


“Se não for hoje, um dia será. Algumas coisas, por mais impossíveis e malucas que pareçam, a gente sabe, bem no fundo, que foram feitas pra um dia dar certo.”

Caio Fernando Abreu

01 fevereiro, 2011

Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes –
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.

Grandes são os desertos, minha alma!
Grandes são os desertos.

Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (á parte o incómodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida.

Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem).
Acendo um cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens,
Para adiar o universo inteiro.

Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te presente absoluto!
Mais vale não ter que ser assim.

Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.

Mas tenho que arrumar a mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.
Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.

Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.

Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei-de arrumá-la e fechá-la;
Hei-de vê-la levar de aqui,
Hei-de existir independentemente dela.

Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.

Pobre da alma humana como oásis só no deserto ao lado!
Mais vale arrumar a mala.

Fim.


4/9/1930
(Fernando Pessoa – Álvaro de Campos, 2002, Poesia, pp. 384-386).