21 dezembro, 2007


Milagreiro
Djavan
Agora vamos ter os girassóis
Do fim do ano
E o calor vem desumano
Tudo irá se expandir
Crescer com as águas
Quiçá, amores nos corações
E um santeiro, Milagreiro
Prevê a dor
De terceiros
E diz que a vida
É feita de ilusão
E um santeiro,Milagreiro
Prevê a dor
De terceiros
E diz que a vida
É feita de ilusão
Aquela que um dia o fez sonhar
Se foi com o outro
No dia em que os dois
Se casariam por amor
Ele aluou
Hoje o seu pesar
Cintila nos varais
Usou as sete vidas
E não foi feliz jamais
Toda a imensidão
Passou pela vida
E foi cair na solidão
Mais um santo para esculpir é o que lhe vale
Pra evitar que o rancor suas ervas espalhe
Música linda...

18 dezembro, 2007

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Alberto Caeiro

P.S: É ilusão quando nos sentimos felizes??? (Sofrimentos do Jovem Werther - Goethe)

13 dezembro, 2007

Férias!!!
(Isso inclui: dormir muito, família reunida, chamego de vó, dengo de pai, comida de mãe, leituras deliciosas, filmes da lista, brincar com cachorro, andar de bicicleta, cozinhar, comer, dormir... e começar tudo de novo... pra que mais????)

12 dezembro, 2007

O Amor ou a Eternidade?

"Recordo Camões Ele era um arruaceiro e acabou na prisão, ou por suas rixas ou por ter se envolvido com a infanta dona Maria, irmã do rei João III. Para obter o perdão do rei se popôs a servi-lo na Índia, como soldado. Lá ficou dezesseis anos e, afinal, voltou para Portugal a bordo de um navio, acompanhado de uma jovem indiana que ele amava e a quem dedicou o lindo soneto 'Alma minha gentil, que te partiste". O navio naufragou e Camões só pensou, durante o naufrágio, em uma coisa: salvar o manuscrito dos Lusíadas e dos seus poemas. Deixou a mulher amada morrer afogada (confesso que especulo) e perdeu todos os seus bens, mas salvou os seus manuscritos".
(Retirado de uma das crônicas de Rubem Fonseca, de seu livro O Romance Morreu)

tsc, tsc... Viu só??? Homens...

11 dezembro, 2007


Não vou mais tentar me convencer do que os outros querem que eu me convença ou do que os outros julgam que seja o melhor, o mais adequado, o recomendável. Eu não me convenço de nada; eu sei e sinto. E mudo de idéia quando me der na telha, a propósito.


Aos amantes é lícito a voz desvanecida.
Quando acordares, um só murmúrio sobre o teu ouvido
Ama-me. Alguém dentro de mim dirá: não é tempo, senhora,
Recolhe tuas papoulas, teus narcisos.
Não vês Que sobre o muro dos mortos a garganta do mundo
Ronda escurecida?


Tem coisas que eu quero muito e não sei bem como elas se materializariam se acontecessem. Não consigo nem de longe prever a logística. Também tô pouco me importando. Se é algo que eu quero muito, se acontecer, eu dou um jeito (nem que seja reorganizando todo o resto). O nome disso é estar vivo e manter a capacidade de viver, com todas as suas melhores e mais drásticas conseqüências.


Não é tempo, senhora. Ave, moinho e vento
Num vórtice de sombra. Podes cantar de amor
Quando tudo anoitece? Antes lamenta
Essa teia de seda que a garganta tece.


É bem verdade que tentar é arriscar a dar tudo errado. Em compensação, tentar também é arriscar a dar tudo muito mais certo do que já deu até aqui. Entre a tentativa e a resignação, há o que se construiu de si mesmo e a confiança que se tem de que se pode fazer ainda melhor (e que se merece mais). É precisamente o caso.


Ama-me. Desvaneço e suplico. Aos amantes é lícito
Vertigens e pedidos. E é tão grande a minha fome
Tão intenso o meu canto, tão flamante meu preclaro tecido
Que o mundo inteiro, amor, há de cantar comigo.
(Hilda Hilst, Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão.)



Não vou desistir. Nem hoje, nem amanhã, nem depois de depois de amanhã. Porque eu sei. Dentro da cabeça, em cada neuroninho, em cada célula, em cada terminação nervosa. Eu sei até o osso. Eu soube desde o instante zero e por mais que eu tenha pensado e repensado e meditado e sopesado, eu nunca tive dúvida. Eu sei que é isso. E que isso é o começo do que eu posso fazer. Não vou desistir




10 dezembro, 2007

Alice pergunta ao coelho:
"mas qual é a direção?"

05 dezembro, 2007


O Impulso - Clarice Lispector

Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se trata de intuição, mas de simples infantilidade. Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. Há um perigo: se reflito demais, deixo de agir. E muitas vezes prova-se depois que eu deveria ter agido. Estou num impasse. Quero melhorar e não sei como.Sob o impacto de um impulso, já fiz bem a algumas pessoas. E, às vezes, ter sido impulsiva me machuca muito. E mais: Nem sempre os meus impulsos são de boa origem. Vêm, por exemplo, da cólera. Essa cólera às vezes deveria ser desprezada; outras, como me disse uma amiga a meu respeito, são cólera sagrada. Às vezes minha bondade é fraqueza, às vezes ela é benéfica a alguém ou a mim mesma. às vezes restringir o impulso me anula e me deprime, às vezes restringi-lo da-me uma sensação de força interna.

04 dezembro, 2007

Ultimo Romance
Los Hermanos


Eu encontrei-a quando não quis
mais procurar o meu amor
e o quanto levou foi pra eu merecer
antes um mês e eu já não sei
e até quem me vê lendo jornal
na fila do pão sabe que eu te encontrei
e ninguem dirá
que é tarde demais
que é tão diferente assim
do nosso amor
a gente é que sabe pequena
ahh vaii
me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
afim de te acompanhar
e se o caso for de ir a praia
eu levo essa casa numa sacola..
eu encontrei-a e quis duvidar
tanto clichê
deve não ser
você me falou
pra eu não me preocupar
ter fé e ver coragem no amor
e só de te ver
eu penso em trocar
a minha tv num jeito de te levar
a qualquer lugar
que voce queira
e ir onde o vento for
que pra nos dois
sair de casa ja é
se aventurar
ahh vaii
me diz o que é o sossego que eu te mostro alguem
afim de te acompanhar
e se o tempo for te levar eu sigo essa hora
eu pego carona
pra te acompanhar

03 dezembro, 2007

30 novembro, 2007

Acho que é isso...

Não que eu te ame assim de corpo inteiro, assim até por entre os intervalos dos dedos, por debaixo da carne, impregnada e torpe, embebida e infestada como que acha em si um fundamento outro alheio à própria composição, um esqueleto do vento que sopra do próprio hálito. Não que eu te ame, nessas coisas tolas e miúdas, ínfimas e medíocres, ordinárias e despiciendas que enchem os dias, preenchem horas, desperdiçam anos, como o modo que teus dedos mexem pontuando as tuas frases, ou como variam os intervalos dos teus piscares de olhos conforme o assunto de que tratas, conforme teu entusiasmo, conforme a intensidade da luz. Não que eu te ame, nas minimidades e pequenas tragédias, no burilar do tempo, na suspensão triste que permeia as contrariedades despercebidas, os resíduos de fracasso que se agregam à memória dos dias. Não que eu te ame, não.
Patrícia Antoniete

25 novembro, 2007


"Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
E daí? Eu adoro voar!"


Clarice Lispector


***

P.S: Pensamentos... desejos... saudades...
Ai, ai, ai... Lá vou eu outra vez!


***

21 novembro, 2007

Esquecer...

A capacidade de esquecer é o que existe de mais precioso sobre a face da Terra, sob nossas faces. Amar é indubitavelmente mais magnânimo, mas não é tão essencial quanto o esquecimento: é ele que nos mantém vivos. O amor torna a paisagem mais bonita, mas é o bálsamo curativo do esquecimento que nos faz ter vontade de abrir os olhos para vê-la. A paixão empresta um sentido quase mítico aos dias, mas é esquecer a excruciante tristeza perante a morte dela que nos torna aptos a nos encantar novamente dali a pouco. Já esqueci amores inesquecíveis e sobrevivi a paixões que, tinha convicção, me matariam se terminassem. Às vezes, cruzo na rua com fantasmas que já foram bem vivos na minha história e não deixo de sentir uma certa melancolia por perceber que aquele rosto um dia pleno de significado se tornou tão relevante quanto um outdoor de pasta de dente. Algumas pessoas simplesmente são apagadas da memória como filmes desimportantes. Sem maldade ou intenção, apenas esmaecem até desaparecer. É mesmo impossível manter na memória da pele todos os que passaram por nós ou sermos mantidos por todos: gente demais, espaço de menos... O passado deve ser mantido no lugar dele e não trazido nas costas feito mochila de viajante, lotada com os erros cometidos e alegrias jamais revividas. Para ser feliz é necessário pouca coisa além de se livrar do excesso de carga e esquecer as coisas certas. É útil também jamais perder de vista um detalhe, afixá-lo no espelho do banheiro, repeti-lo como um mantra: absolutamente nada é para sempre, nem mesmo os sentimentos que parecem ser (a vida seria um lago estagnado se só existisse o perene). Nunca mais haverá amor como aquele? Ótimo, porque o novo é tão imenso que seria um desperdício se algo se repetisse. Todo mundo passa. E é bom que seja assim.

( Ailin Aleixo )

15 novembro, 2007

Tudo acaba. Até a solidão.

13 novembro, 2007

Pneumotórax -
Manuel Bandeira

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.
................
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

12 novembro, 2007


Diz-se que a estrela-do-mar é o organismo com maior poder de regeneração. Discordo: penso que é o ser humano.

08 novembro, 2007

Crime Passional


"você eu fui matando aos poucos. um dia depois do outro. bem devagar. deixei de perguntar. deixei de dizer. deixei de avisar. dobrei cobertores, empilhei discos, escondi travesseiros e fotografias. separei o que havia em dupla. livrei-me do que era único. usei as costas de bilhetes essenciais. varri todos os pêlos pra debaixo dos lençóis. abafei as minhas vontades com mãos postas em desespero. o telefone se esganando por um fio. fumei páginas e páginas da tua Bíblia. mudei horários. recolhi documentos. mandei recados. voltei aos ovos fritos e às notícias. comecei a passar reto onde fazia curva. fui matando você assim. devagarzinho mesmo. agora você está completamente assassinada."


Fernando Bonassi
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,há calma e frescura na superfície intacta.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros.
Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume com seu poder de palavra e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema.
Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:Trouxeste a chave?

fragmento de “Procura da Poesia”, Drummond

07 novembro, 2007

Apenas goste de mim.

...
Apenas goste de mim. Me sorria discreto quando todo o resto do mundo não estiver olhando. E me sorria também quando todo mundo olhar, com um jeito de quem faz piada interna, pra que eu me sinta mais importante que o resto.Goste de mim mesmo de óculos e cabelo preso pra cima, goste de roupas específicas do meu guarda roupa. Goste das minhas palavras, do meu jeito criativo de elogiar, das minhas menores ou mais elaboradas declarações de amor. Não aceite todos os meus depoimentos, mas não tenha coragem de apagá-los.Goste das coisas que eu não gosto no meu corpo, adore as que eu já aprendi a gostar. Guarde as minhas mãos nas suas com cuidado, segure meus pulsos como se fossem realmente frágeis, mas me aperte com força me puxando pelos cabelos como se quisesse se fundir em mim. Me deseje em momentos inoportunos, me leve embora no meio da festa só porque não pode esperar mais. Me entenda sem palavras, me repreenda em silêncio de vez em quando, porque no fundo eu preciso sentir que pertenço a alguém. Goste das minhas piadas e incorpore-as ao seu vocabulário. Faça as suas.Goste de música. Pelo amor de Deus, goste muito de música, entenda de música e tenha bom gosto. Toque violão, guitarra, baixo, bateria, qualquer coisa. Goste de Los Hermanos, mesmo que não assuma. E goste da minha voz, principalmente quando eu cantar baixo e só pra você.Goste de me olhar. Dançando, lavando louça, lendo, bebendo, falando. Me desconcerte com esse olhar insistente. Procure as minhas mãos por debaixo de mesas e cobertores.Seja meu maior cúmplice. Ame a minha vitrola e meu carro velho, meus óculos vermelhos, meu cabelo. E goste também dos meus silêncios, ou pelo menos entenda-os.Me compre doces, respeite minha TPM, enxugue minhas raras lágrimas. Beije meus muitos sorrisos.Goste dos meus amigos mas saiba enxergar os defeitos deles. Respeite. Goste dos meus pais e de quem estiver com eles. Mas fique sempre do meu lado.Goste de mim do jeito que eu sou e do jeito que vou me tornando a cada dia. Goste de mim, com doçura, com força, com sinceridade. E só.

Texto sem título de F. Reis, que escreve no Ventura (http://ventura1.blogspot.com/)

Linus sings - The Police

Eles são fofos!!!

06 novembro, 2007

Li por aí:

"A gente é sempre devolvido pra si mesmo."
"...Nunca mais romance
Nunca mais cinema
Nunca mais drinque no dancing
Nunca mais cheese
Nunca uma espelunca
Uma rosa nunca
Nunca mais feliz.”

A História de Lily Braun, Edu Lobo e Chico Buarque

P.S: Está tudo muito bom, só não queria estar com esse traço melancólico. Dias de ver passar o dia...

03 novembro, 2007

Coisas que eu sei
Danni Carlos


Eu quero ficar perto de tudo o que eu acho certo
Até o dia em que eu mudar de opinião
A minha experiência, meu pacto com a ciência
Meu conhecimento é minha distração
Coisas que eu sei
Eu adivinho sem ninguém ter me contado
Coisas que eu sei
O meu rádio-relógio mostra o tempo errado... aperte o ‘Play’
Eu gosto do meu quarto, do meu desarrumado
Ninguém sabe mexer na minha confusão
É o meu ponto de vista, não aceito turistas
Meu mundo tá fechado pra visitação
Coisas que eu sei
O medo mora perto das idéias loucas
Coisas que eu sei
Se eu for eu vou assim não vou trocar de roupa... é a minha lei
Eu corto os meus dobrados
Acerto os meus pecados
Ninguém pergunta mais... depois que eu já paguei
Eu vejo o filme em pausas
Eu imagino casas
Depois eu já nem lembro do que eu desenhei
Coisas que eu sei
Não guardo mais agendas no meu celular
Coisas que eu sei
Eu compro aparelhos que eu não sei usar... eu já comprei
As vezes dá preguiça
Na areia movediça
Quanto mais eu mexo mais afundo em mim
Eu moro num cenário
Do lado imaginário
Eu entro e saio sempre quando to a fim
Coisas que eu sei
As noites ficam claras no raiar do dia
Coisas que eu sei
São coisas que antes eu somente não sabia...
Agora eu sei

29 outubro, 2007


Não quero ser feliz.
Também não quero ser triste.
Eu quero apenas a serenidade.
Equilíbrio.

26 outubro, 2007

CHEGA DE TRISTEZA!!!

Chega, acabou, dias tristes????? NUNCA mais.

Eu sou alegre, bem humorada e sempre fui e sempre vou ser assim: FELIZ!

O amor???? Ahhh! Uma hora ele chega de VERDADE, mas enquanto isso vou curtir tudo o que tenho de melhor: meus amigos, minha família, minha vida e meu trabalho!


Então, pra comemorar essa nova fase, nada melhor do que um humor-negro...rs.
***
Fui ser feliz!!!!!!
*****

25 outubro, 2007

"A liberdade é a possibilidade do isolamento.
Se te é impossível viver só, nasceste escravo."

Fernando Pessoa

24 outubro, 2007

"Passava a vida a ver paixões falharem-lhe nas mãos como fósforos."
Carlos da Maia ( Os Maias – Eça de Queiroz)

19 outubro, 2007

Transformações (uma fábula)
Caio Fernando Abreu

Feito febre, baixava às vezes nele aquela sensação de que nada daria jamais certo, que todos os esforços seriam para sempre inúteis, e coisa nenhuma de alguma forma se modificaria. Mais que sensação, densa certeza viscosa impedindo qualquer movimento em direção à luz. E além da certeza, a premonição de um futuro onde não haveria o menor esboço de uma espécie qualquer não sabia se de esperança, fé, alegria, mas certamente qualquer coisa assim.Eram dias parados, aqueles. Por mais que se movimentasse em gestos cotidianos - acordar, comer, caminhar, dormir, dentro dele algo permanecia imóvel. Como se seu corpo fosse apenas a moldura do desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos, olhos fixos na distância. Ausentou-se, diriam ao vê-lo, se o vissem. E não seria verdade. Nesses dias, estava presente como nunca, tão pleno e perto que estava dentro do que chamaria - tivesse palavras, mas não as tinha ou não queria tê-las - vaga e precisamente de: A Grande Falta.Era translúcida e gelada. Tivesse olhos, seriam certamente verdes, com remotas pupilas. À beira da praia certa vez encontrara um caco de garrafa tão burilado pelas ondas, areias e ventos que cintilava ao sol, pequena jóia vadia. Apertou-o entre os dedos, sentindo um frio anestésico que o impedia de perceber as gotas de sangue brotando mornas da palma da mão. Era assim A Grande Falta. Pudessem vê-lo, pudesse ver-se, veriam também o sangue, ele e os outros. Acontece que tornava-se invisível nesses dias. Olhando-se ao espelho, sabia de imediato que estava dentro Dela. No vidro, além dele mesmo, localizava apenas um claro reflexo esverdeado.Ela estava tão dentro dele quanto ele dentro Dela. Intrincados, a ponto de um tornar-se ao mesmo tempo fundo e superfície do outro. Amenizava-se às vezes no decorrer do dia, nuvens que se dissipam, turvo de água clareando até o cair da noite surpreendê-lo nítido, passado a limpo, passado a ferro. Então sorria, dava telefonemas, cantava ou ia ao cinema. Mas em outras vezes adensava-se feito céu cada vez mais escuro, turvo agitado subindo do fundo, vidro bafejado. Sem dormir, fosforescia entre os lençóis ouvindo os ruídos da madrugada chegarem como abafados por uma grossa camada de algodão. Dissipava-se ou concentrava-se na manhã seguinte e, concentrando-se, não era uma manhã seguinte, mas apenas uma fluida e mansa continuação sem solavancos.Seu maior medo era o destemor que sentia. Íntegro, sem mágoas nem carências ou expectativas. Inteiro, sem memórias nem fantasias. Mesmo o não-medo sequer sentia, pois não-dar-certo era o natural das coisas serem, imodificáveis, irredutíveis a qualquer tipo de esforço. Fosse íntimo das águas ou dos ares, teria quem sabe parâmetros para compreender esse quieto deslizar de peixe, ave. Criatura da terra, seu temor era quem sabe perder o apoio dos pés. E criatura do fogo, A Grande Falta crepitava em chamas dentro dele.Sua invisibilidade no entanto não o invisibilizava: encadernava-o meticulosa em um determinado corpo e uma voz particular e uns gestos habituais e alguns trejeitos pessoais que, aparentemente, eram ele mesmo. Por isso não é verdade que não o veriam. Veriam e viam, sim, aquela casca reproduzindo com perfeição o externo dele. Tão perfeito que nem ao menos provocava suspeitas aumentando as pausas entre as palavras, demorando o olhar, ralentando o passo daquele falso corpo.Atrás da casca, porém, o cristal incandescia. Debaixo da terra, fogo-fátuo soterrado tão profundamente que a pele nem reluzia.Alguma coisa que jamais teria, e tão consciente estava dessa para sempre ausência que, por paradoxal que pareça, era completo nesse estado de carência plena. Isso acontecia apenas quando dentro Dela, pois ao desembarcar, em vez de sorrir ou fazer coisas, freqüentemente limitava-se a chorar penoso como se apenas a dor fosse capaz de devolvê-lo ao estágio anterior. A dor desconsolada e inconsolável, em soluços que o sacudiam cada vez mais fortemente, a cada um deles partindo-se a casca, quebrando-se a moldura, rachando-se o vidro, apagando-se o fogo.Como uma outra espécie de felicidade, esse desembaraçar-se de uma também felicidade. Emerso, chafurdava em emoções: tinha desejos violentos, pequenas gulas, urgências perigosas, enternecimentos melados, ódios virulentos, tesões insaciáveis. Ouvia canções lamurientas, bebia para despertar fantasmas distraídos, relia ou escrevia cartas apaixonadas, transbordantes de rosas e abismos. Exausto, então, afogava-se num sono por vezes sem sonhos, por vezes - quando o ensaio geral das emoções artificialmente provocadas (mas que um dia, em outro plano, aquele da terra onde, supunha, gostava de pisar, aconteceriam realmente) não era suficiente - povoado com répteis frios, a tentar enlaçá-lo com tentáculos pegajosos e verdes olhos de pupilas verticais.Não saberia dizer com certeza como nem quando aconteceu. Mas um dia - um certo dia, um dia qualquer, um dia banal - deu-se conta que. Não, realmente não saberia dizer ao menos do que dera-se conta. Mas foi assim: olhando-se ao espelho, pela manhã, percebeu o claro reflexo esverdeado. Está de volta, pensou. E no mesmo instante, tão imediatamente seguinte que confundiu-se com o anterior, cantava, novamente ele mesmo. No segundo verso, pequena contração, tinha novamente entre os dedos o caco de vidro luminoso. Mas antes que a mão sangrasse, havia preparado um drinque, embora fosse de manhã, e bebia lento, todo intenso. Antes de engolir o líquido, seu corpo ganhou vértices súbitos, emoldurando o desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos abertas, olhos fixos na distância.Foi um dia movimentado, aquele. Sua casca partia-se e refazia-se, entardecer sombrio e meio-dia cegante intercalados. Fumou demais, sem terminar nenhum cigarro. Bebeu muitos cafés, deixando restos no fundo das xícaras. Exaltou-se, ausentou-se. No intervalo da ausência, distraía-se em chamá-la também, entre susto e fascínio, de A Grande Indiferença, ou A Grande Ausência, ou A Grande Partida, ou A Grande, ou A, ou. Na tentativa ou esperança, quem saberia, de conseguindo nomeá-la conseguir também controlá-la.Não conseguiu. Desimportou-se com aquilo. Tomado a intervalos pelo anônimo, atravessou a tarde, varou a noite, entrou madrugada adentro para encontrar a manhã seguinte, e outra tarde, e outra noite ainda, e nova madrugada, e assim por diante. Durante anos. Até as têmporas ficarem grisalhas, até afundarem os sulcos em torno dos lábios. Houvesse uma pausa, teria pedido ajuda, embora não soubesse ao certo a quem nem como. Não houve. Mas porque as coisas são mesmo assim, talvez por certa magia, predestinações, sinais ou simplesmente acaso, quem saberá, ou ainda por ser natural que assim fosse, e menos que natural, inevitável, fatalidade, trágicos encantos - enfim, houve um dia, marco, em que o tocaram de leve no ombro.Ele olhou para o lado. Ao lado havia Outra Pessoa. A Outra Pessoa olhava-o com cuidadosos olhos castanhos. Os cuidadosos olhos castanhos eram mornos, levemente preocupados, um pouco expectantes. As transformações tinham se tornado tão aceleradas que, no primeiro momento, não soube dizer se a Outra Pessoa via a ele ou a Ela, se se dirigia à moldura, à casca, ao cristal ou ao desenho, ao corpo original, às gotas de sangue. Isso num primeiro momento. Num segundo, teve certeza absoluta que se tinha desinvisibilizado. A Outra Pessoa olhava para uma coisa que não era uma coisa, era ele mesmo. Ele mesmo olhava para uma coisa que não era uma coisa, era Outra Pessoa. O coração dele batia e batia, cheio de sangue. Pousada sobre seu ombro, a mão da Outra Pessoa tinha veias cheias de sangue, latejando suaves.Alguma coisa explodiu, partida em cacos. A partir de então, tudo ficou ainda mais complicado. E mais real.

La Môme -

Chega de xarope amargo!

17 outubro, 2007

Cansada!

Não de fazer coisas, mas de existir...

16 outubro, 2007

The Danish Poet, de Torill Kove. Narração de Liv Ullmann.

In - potência.

Para falar a verdade, eu já não sei mais, não sei mais que nome tem essa cor que se apossa das coisas, que trespassa o tempo e pousa na luz, embaça os olhos, embota a fala e, ao mesmo tempo, são todas as palavras juntas, todos os infindáveis argumentos e razões, explica tudo porque faz com que não reste mais nada a explicar. Sinceramente não sei se sabes do que eu estou falando, mas intuo que sabes, só custa-me crer que sabes mesmo e, ainda assim, a isto segues quase incólume, quase surdo, quase cego, quase indiferente, a não ser pelos pequenos momentos de desespero, a não ser pelos raros instantes em que a pele racha como casca que se fere e verte água, em que a certeza da insuficiência e do amargo conseguem encaixar o golpe, em que vês teu rosto de relance muito mais velho no espelho, como se tudo isso não abrisse em ti enormes abismos, como se isso não te encravasse escuros, como se isso não fosse determinar aquilo que não vais mais poder voltar a ser. Eu já não sei qual seria a história, a frase, o que falta de mim a mostrar, o que ainda resta inaudito que poderia soar como um abre-te-sésamo, mas é certo que em mim algo lateja uma dor estranha e inflamada, certeza enterrada sob as unhas, uma intuição insone e palpável que me faz sentir teus olhos abertos no escuro do quarto, tantas horas depois da noite, famintos dos meus, teu corpo deserto e claro e tua pele morna sem descanso longe das minhas mãos. E então meu corpo é um ninho repleto da tua falta, minha boca se faz triste sem a tua boca e meus olhos sentem a fome implacável dos teus. E, embora eu já não saiba mais, sei.

Patrícia Antoniete Ferreira

11 outubro, 2007


Tempo, tempo, tempo...

Agora é so o que me resta...

Oração ao Tempo - Caetano Veloso

És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho
Tempo Tempo Tempo Tempo, vou te fazer um pedido
Tempo Tempo Tempo Tempo
Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos
Tempo Tempo Tempo Tempo entro num acordo contigo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Por seres tão inventivo e pareceres contínuo
Tempo Tempo Tempo Tempo és um dos deuses mais lindos
Tempo Tempo Tempo Tempo
Que sejas ainda mais vivo no som do meu estribilho
Tempo Tempo Tempo Tempo ouve bem o que te digo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Peço-te o prazer legítimo e o movimento preciso
Tempo Tempo Tempo Tempo quando o tempo for propício
Tempo Tempo Tempo Tempo
De modo que o meu espírito ganhe um brilho definido
Tempo Tempo Tempo Tempo e eu espalhe benefícios
Tempo Tempo Tempo Tempo
O que usaremos pra isso fica guardado em sigilo
Tempo Tempo Tempo Tempo apenas contigo e migo
Tempo Tempo Tempo Tempo
E quando eu tiver saído para fora do círculo
Tempo Tempo Tempo Tempo não serei nem terás sido
Tempo Tempo Tempo Tempo
Ainda assim acredito ser possível reunirmo-nos
Tempo Tempo Tempo Tempo num outro nível de vínculo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Portanto peço-te aquilo e te ofereço elogios
Tempo Tempo Tempo Tempo nas rimas do meu estilo
Tempo Tempo Tempo Tempo


é isso....

28 setembro, 2007

SONETO DE SEPARAÇÃO
Vinícius de Morais


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

24 setembro, 2007

Futuros Amantes

Nesse video, Chico devaneia e explica para seus admiradores como surgiu a inspiração para a letra da música:

"Eu tava mexendo no violão, começando a fazer a melodia, e a primeira imagem que apareceu foi exatamente esta: uma cidade submersa, isolada de tudo. Porque, cantarolando, parecia que a música queria dizer isso. Eu tinha que ir atrás da explicação dessa cidade submersa. Aí eu coloquei os escafandristas, e surgiu a história de um amor adiado, um amor que fica para sempre. Essa idéia do amor como algo que pode ser aproveitado mais tarde, que não se desperdiça. Passa-se o tempo, passam-se milênios, e aquele amor ficará até debaixo d'água. Um amor que vai ser usado por outras pessoas, um amor que não foi utilizado porque não foi correspondido, e então ele fica ímpar, pairando... Esperando que alguém o apanhe e complete a sua função de amor".

Um boa explicação para a música que já serviu de consolo para todas as pessoas que um dia sofreram com um amor não correspondido: "futuros amantes quiçá se amarão, sem saber, com o amor que eu um dia deixei pra você".

Admito: já houve dias em que eu ouvi esta canção e não pude conter as lágrimas... esse amor adiado, esse amor que fica pra sempre...

17 setembro, 2007

"Reverência ao Destino"
(Carlos Drummond de Andrade)

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião. Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas. Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

15 setembro, 2007

06 setembro, 2007

"Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse a chorar isto que sinto!"

Florbela Espanca

01 setembro, 2007










"Sou capaz de acreditar em tudo, desde que seja coisa absolutamente incrível".
Oscar Wilde

31 agosto, 2007


"Põe o quanto és no mínimo que fazes."
Fernando Pessoa

29 agosto, 2007


Os teus olhos são frios como espadas,
E claros como os trágicos punhais;
Têm brilhos cortantes de metais
E fulgores de lãminas geladas.
Vejo neles imagens retratadas
De abandonos cruéis e desleais,
Fantásticos desejos irreais,
E todo o oiro e o sol das madrugadas!
Mas não te invejo,
Amor, essa indiferença,
Que viver neste mundo sem amar
É pior que ser cego de nascença!
Tu invejas a dor que vive em mim!
E quanta vez dirás a soluçar:“Ah! Quem me dera, Irmã, amar assim!…”

27 agosto, 2007

" No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a familía,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças."

Álvaro de Campos

P.S: Por que fazer aniversário não tem a mesma graça de antes???
Estou ficando velha, com o coração cansado...
Foi muito ruim encontrar com o passado esses dias... ainda dói.
Deve ser esse o motivo da minha tristeza.

***

14 agosto, 2007


RETRATO

Eu não tinha êste rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem êstes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem fôrça, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha êste coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: — Em que espêlho ficou perdida a minha face?


Cecília Meireles

11 agosto, 2007

Idade chegando, ou seja:
Comer melhor;
Fazer exercícios;
Ser saudável...
Que saco!

09 agosto, 2007



Iluminada por Deus!!!

02 agosto, 2007

Não adianta explicar. Você não vai entender. Às vezes, como num sonho, vejo o dia da minha morte. É uma coisa meio espírita, um flash. E, embora a mulher não apareça, sei que é por causa dela que estão me matando. E tenho tempo de saber que não me deixa infeliz o desfecho da nossa história. Terá valido a pena.

Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios -
Marçal Aquino.

30 julho, 2007


Estou INSUPORTAVELMENTE FELIZ!!!
É o amor...

26 julho, 2007

Cantiguinha

Meus olhos eram mesmo água,
— te juro —
mexendo um brilho vidrado,
verde-claro, verde-escuro.
Fiz barquinhos de brinquedo,
— te juro —
fui botando todos êles
naquele rio tão puro.
Veiu vindo a ventania,
— te juro —
as águas mudam seu brilho,
quando o tempo anda inseguro.
Quando as águas escurecem,
— te juro —
todos os barcos se perdem,
entre o passado e o futuro.
São dois rios os meus olhos,
— te juro —
noite e dia correm, correm,
mas não acho o que procuro.

Cecília Meireles

24 julho, 2007


Coisas que NUNCA vou saber explicar...
Sentimento.
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

23 julho, 2007

Por que não ataca o tubarão as impávidas sereias?
É verdade que o âmbar contém as lágrimas das sereias?
As lágrimas que não se choram esperam em pequenos lagos?
Onde encontrar um sino que soe dentro de teus sonhos?

(Livro das Perguntas, Pablo Neruda)

14 julho, 2007

Um dos meus poemas prediletos:

Posso escrever os versos mais tristes esta noite/ Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros lá ao longe"/ O vento da noite gira no céu e canta/ Posso escrever os versos mais tristes esta noite/ Eu amei-a e por vezes ela também me amou/ Em noites como esta tive-a em meus braços/ Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito/ Ela amou-me, por vezes eu também a amava/ Como não ter amado os seus grandes olhos fixos/ Posso escrever os versos mais tristes esta noite/ Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi/ Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela/ E o verso cai na alma como no pasto o orvalho/ Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la/ A noite está estrelada e ela não está comigo/ Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe/ A minha alma não se contenta com havê-la perdido/ Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a/ O meu coração procura-a, ela não está comigo/ A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores/ Nós dois, os de então, já não somos os mesmos/ Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei/ Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido/ De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos/ A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos/ Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda/ É tão curto o amor, tão longo o esquecimento/ Porque em noites como esta tive-a em meus braços/ a minha alma não se contenta por havê-la perdido/ Embora seja a última dor que ela me causa/ e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda
De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.

Adélia Prado

12 julho, 2007

É como se minha vida fosse magicamente dirigida por duas correntes elétricas: contente positiva e desesperançada negativa — a que estiver em ação no momento domina minha vida, inunda-a. Agora estou inundada de desespero, quase histeria, como se estivesse sufocando. Como se uma grande coruja musculosa estivesse sentada em meu peito.

Sylvia Plath

06 julho, 2007

02 julho, 2007


E eu mordo!!!
Ocorrência

Aí o homem sério entrou e disse: bom-dia
aí o outro homem sério respondeu: bom-dia
aí a mulher séria respondeu: bom-dia
aí todos riram de uma vez menos as duas cadeiras, a mesa, o jarro, as flores, as paredes, o relógio, a lâmpada, o retrato, os livros, o mata-borrão, os sapatos, as gravatas, as camisas, os lenços.

Ferreira Gullar

01 julho, 2007

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma avede rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade

27 junho, 2007


Pensei que eu fosse mais forte.
Por que ainda você esta nos meus sonhos?
Acordo com a terrivel sensação de abandono e desprezo.
Por que ainda isso??? Estou tão feliz, bom, eu acho...
Sou tão contraditória com meus sentimentos.
Não quero isso, quero distância total, de você e das lembranças que um dia me fizeram desesperadamente feliz.
Saía dos meus sonhos, eu exijo!

25 junho, 2007

Como lidar com a própria ausência?
...

24 junho, 2007

mesmo
na idade
de virar
eu mesmo

ainda confundo
felicidade
com este
nervosismo.

Paulo Leminski

23 junho, 2007

Não vemos bem como as coisas podiam ter sido muito diferentes, e ainda não atribuímos relevância alguma ao fato de a nossa história estar ficando mais comprida do que o nosso futuro.
(Silêncio em Outubro - Jens Christian Grondahl).

07 junho, 2007

"O que eu sinto eu não ajo.
O que ajo não penso.
O que penso não sinto.
Do que sei sou ignorante.
Do que sinto não ignoro.
Não me entendo e ajo como se me entendesse"

CLARICE LISPECTOR - A descoberta do mundo

30 maio, 2007

"Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os factos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que ela tinha a ensinar-me, em vez de descobrir a hora da morte que não tinha vivido. Não queria viver o que não fosse vida, viver é tão precioso; nem queria praticar resignacão, a não ser que fosse absolutamente necessário. Queria viver profundamente e sorver toda a essência da vida, viver violenta e espartanamente de forma a derrotar tudo que não fosse vida..." Henry Thoreau

28 maio, 2007


"Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca. E tudo isso ganhei ao deixar de te amar" - Clarice Lispector

21 maio, 2007

Eu já não quero mais contar a você o que acontece no meu dia nem os meus pensamentos. Também não tenho tido a menor necessidade de lembrar daqueles tempos. Tudo em minha vida esta seguindo seu curso tranquilamente assim como eu, que nos últimos meses venho sonhando contigo cada vez mais raramente.

É com certo alívio que me vejo com outros interesses, abrindo portas, janelas, escalando pequenos muros que se colocavam no meio do caminho.

Isso não significa que estou curada definitivamente. Claro que não. Meu exagero e minha vocação para o drama continuam intactos. Mas a regeneração do meu coração e dos meus sentidos vem acontecendo de forma cada vez mais rápida. Não sou mais tão criança assim.

Ontem lembrei quase sem dor do último beijo.

E descobri que é o amor, e não o tempo, que cura todas as feridas...

***

16 maio, 2007


"Como se eu estivesse fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam pra se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada, sem saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota..."

Caio Fernando Abreu

10 maio, 2007

"Não sei que nome dar ao que me toma, ou ao que estou com voracidade tomando, senão o de paixão."
Clarice Lispector

09 maio, 2007

Desencanto - Manuel Bandeira

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.-

Eu faço versos como quem morre.

04 maio, 2007

"Das coisas que eu perdi, as que mais sinto falta são aquelas que não existem; as que não são materiais e que não se pode comprar."

Do filme "O Cheiro do ralo", muuuuito bom, recomendo!!!!

03 maio, 2007


Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre-
Esse rio sem fim.

Fernando Pessoa, 11-9-1933

30 abril, 2007

Surgiu como um clarão
Um raio me cortando a escuridão
E veio me puxando pela mão
Por onde não imaginei seguir
Me fez sentir tão bem, como ninguém
E eu fui me enganando sem sentir
E fui abrindo portas sem sair
Sonhando às cegas, sem dormir
Não sei quem é você
O amor em seu carvão
Foi me queimando em brasa no colchão
E me partiu em tantas pelo chão
Me colocou diante de um leão
O amor me consumiu, depois sumiu
E eu até perguntei, mas ninguém viu
E fui fechando o rosto sem sentir
E mesmo atenta, sem me distrair
Não sei quem é você
No espelho da ilusão
Se retocou pra outra traição
Tentou abrir as flores do perdão
Mas bati minha raiva no portão
E não mais me procure sem razão
Me deixe aqui e solta a minha mão
E fui flechando o tempo, sem chover
Fui fechando os meus olhos, pra esquecer
Quem é você?
Carvão - Ana Carolina

P.S: Decepção. Essa é a palavra. Quem foi você? Mentiras... Cada dia mais eu tenho a certeza que você só existiu na minha cabeça. Fingiu... Enganou... E essa mágoa não passa...

24 abril, 2007

Um texto legal de uma escritora nova cheia de idéias:

“Olho para as árvores sob as quais caminho devagar; observo algum ponto que não existe mas que talvez existisse se eu não estivesse como estou. Por mais que eu tente reconstruir a minha história, os dados se perdem em alguns momentos e minha mente se afunda em um imenso vazio. A maioria das pessoas não consegue imaginar o nada, e as que conseguem levam um longo tempo para alcançá-lo. Eu acho tão fácil imaginar o nada e fazê-lo me deixa mais satisfeito do que imaginar qualquer outra coisa. Quando me lembrar dos fatos se torna ainda mais doloroso do que tentar esquecê-los, mesmo porque se trata de uma tentativa inútil, mergulho mais uma vez na imensidão e no alívio do meu nada. (...) Das lembranças, não confio nem desconfio: apenas sei que estão lá, em seu processo de corrosão. Das pessoas, desconfio. Por isso não posso procurar melhor companhia. Em mim, eu confio – até porque sei que não posso confiar em mais ninguém. Eu sei que eu não me traio ou trairia, e gostaria de ter aprendido isso mais cedo. Mas não havia como, porque só me mostraram o contrário, apesar de ele ser uma mentira. Se me perguntarem exatamente como eu vim parar aqui, talvez eu engasgue ou mude de assunto. Mas depois vou suspirar, olhar para cima e me quietar. É sempre assim: primeiro eu me altero, depois me torno apático – e essa mudança tem-se dado cada vez mais rapidamente. Às vezes não consigo discernir o que eu fiz daquilo que me fizeram, porque o sofrimento faz com que as lembranças se misturem. Mas eu sempre acabo recuperando minha consciência e reafirmando uma de minhas poucas certezas: não foi culpa minha. O fato é que agora estou aqui, e isso não mudará – por mais que eu queira, por mais que eu grite e... me deite, tape meus ouvidos, feche meus olhos e volte para o conforto do meu nada. Não posso começar minha vida novamente e, pensando bem, talvez nem quisesse. Estou cansado demais para tentar ir em frente, quanto mais para voltar. Agora, tudo está feito – seja lá o que isso signifique.”

Liliane Prata - Jornalista e escritora

23 abril, 2007

"Me diz como fugir do que levamos por dentro,
Como fugir?"
Então vá se perder - Ana Carolina

20 abril, 2007

"... É, Deus, parece que vai ser nós dois ate o fim..." -
Los Hermanos

***

15 abril, 2007

"Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
Dá tua mão
Olha pra mim
Não faz assim
Não vai lá não
(...)"
As vitrines
Chico Buarque/1981

11 abril, 2007


Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

Mario Quintana - Espelho Mágico

02 abril, 2007

"Sempre que penso uma cousa, traio-a.
só tendo-a diante de mim devo pensar nela,
não pensando, mas vendo,
não com o pensamento, mas com os olhos.
uma coisa que é visível existe para se ver,
e o que existe para os olhos não tem que existir para o pensamento;
só existo directamente para o pensamento e não para os olhos.
olho, e as cousas existem.
penso e existo só eu."


Alberto Caeiro

29 março, 2007

Chico Buarque - Atrás da Porta
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
Só pra provar que ainda sou tua

28 março, 2007

Ah, meu Anjo da Guarda, guarda-me das dores.
Mas não de todas elas.
Guarda-me apenas das dores inúteis!

Dia ruim!!!

21 março, 2007

Hoje é dia internacional da poesia!!!! Então vamos lá:


Segue o teu destino

Segue o teu destino
Rega as tuas plantas
Ama as tuas rosas
O resto é a sombra
De árvores alheias

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.

Suave é viver só
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses

Vê de longe a vida
Nunca a interrogues
A resposta está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração
Os deuses são deuses
Porque não se pensam

Ricardo Reis, 1-7-1916
Ricardo Reis (1887 - 1935) é um dos três heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa.

20 março, 2007

Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo.
Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palvras e lágrimas. Sem pausa para a reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo múrmurio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.

Samuel Becket, in "Textos para Nada"

14 março, 2007

Desabafo

Ando terrivelmente inquieta.
Faço mal aos outros também.
Será possível amar as pessoas para sempre?
Sem tempo, sem dia ruim, sem exigir o mesmo amor de volta?
Como me defender dos meus próprios medos e angústias?
Estou passando pela vida sem entender absolutamente nada...
Sou prisioneira desses pensamentos que insistem em me perturbar.
Banho frio, vida fria, deito, leio, durmo, acordo e passo os dias sem saber como estou passando os dias.
Estou tão vazia. Tão igual.
Pensamento solitário.
Ausente.
Confusa.
Perigosa para mim mesma.
Amor... o amor...
Certeza? Onde?
Venha, minta se for preciso.
Ate quando tudo será tão vago em minha vida?
Nem sempre temos aquilo que queremos.
Nem sempre queremos aquilo que temos...
E assim vou seguindo, dia após dia..
Tão sem graça...
Tão vazia...

12 março, 2007

Narciso de Michelangelo Caravaggio

"...Ela olha para ela em vez de olhar para ti, e por isso não te conhece. Durante as duas ou três pequenas explosões de paixão que ela se permitiu a teu favor, ela, por um grande esforço de imaginação, viu em ti o herói dos seus sonhos, e não tu mesmo como realmente és..."
Le Rouge et le Noir - Stendhal (1830)

06 março, 2007

"... Não que estivesse triste, só não sentia mais nada..." - CFA

28 fevereiro, 2007


"Sou talvez a visão que alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca me encontrou."

Florbela Espanca

25 fevereiro, 2007

Carta anônima

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.
Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam?
Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.
Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.
Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo.


Caio Fernando Abreu
O Estado de S. Paulo, 16/03/88
Pequenas Epifanias

22 fevereiro, 2007

AMOR

Talvez seja verdade que não existimos enquanto não houver quem veja que nós existimos, que não falamos enquanto não houver quem ouça o que estamos a dizer, no fundo, não estamos completamente vivos enquanto não formos amados. Poucas coisas são tão estimulantes e simultaneamente aterrorizadoras como saber que somos o objecto do amor de alguém, já que para quem não está completamente convencido de que merece ser amado, ser alvo de carinho é como receber uma grande honra sem perceber bem porquê. Assim que se resolve descobrir sinais de atração mútua, tudo o que o ser amado diz ou faz pode ser interpretado como significando praticamente o que se quiser. Só nos apaixonamos quando não sabemos por quem estamos apaixonar-nos. Se nos apaixonamos com tanta rapidez, talvez seja porque a vontade de amar precede o objeto do amor. Apaixonamo-nos na esperança de não encontrarmos no outro aquilo que sabemos existir em nós - covardia, fraqueza, preguiça, desonestidade, acomodação e estupidez.

Alain de Botton -" Ensaios sobre o amor"

20 fevereiro, 2007

O Que Será (À Flor Da Pele)
Chico Buarque

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

14 fevereiro, 2007



Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigo e eu para sempre te leve... - mas só este eu não farei. Uma palavra caída das montanhas dos instantes desmancha todos os mares e une as terras mais distantes...-palavra que não direi. (...)E, enquanto não me descobres, os mundos vão navegando nos ares certos do tempo, até não se sabe quando... - e um dia me acabarei.
Timidez (Cecília Meireles)

05 fevereiro, 2007

"O ímpeto de crescer e viver intensamente foi tão forte em mim que não consegui resistir a ele. Enfrentei meus sentimentos. A vida não é racional; é louca e cheia de mágoa. Mas não quero viver comigo mesma. Quero paixão, prazer, barulho, bebedeira e todo o mal. Quero ouvir música rouca, ver rostos, roçar em corpos, beber um Benedictine ardente. Quero conhecer pessoas perversas, ser íntima delas. Quero morder a vida e ser despedaçada por ela. Eu estava esperando. Esta é a hora da expansão, do viver verdadeiro. Todo o resto foi uma preparação. A verdade é que sou inconstante, com estímulos sensuais em muitas direções. Fiquei docemente adormecida por alguns séculos e entrei em erupção sem avisar."
Anais Nïn

30 janeiro, 2007

Das definições perfeitas



Felicidade: 1. invólucro onde se guardam sorrisos; 2. momento em que os ponteiros do relógio decidem dançar valsa; 3. líquido viscoso que escorrega por entre os dedos; 4. pedaço de gente com cheiro de talco; 5. movimento espontâneo dos cantos da boca em direção às orelhas; 6. sobrenome do azul; 7. olodum dentro do peito; 8. conjunto de círculos concêntricos em rubro e branco para onde se atiram dardos em forma de coração; 9. roçar de pés por sob o cobertor em noites com temperatura inferior a 18 graus; 10. tia-avó da alegria; 11. erva da qual se faz um chá afrodisíaco; 12. movimento elíptico do Sol em torno do ser amado; 13. nome dado à gota salgada que despenca dos olhos em dia de festa; 14. sensação de se ter feito o que se deveria ter feito; 15. oitava cor do arco-íris; 16. retângulo onde se inserem flagrantes registrados em nitrato de prata; 17. desejo súbito de voar; 18. distúrbio psicológico que causa avalanche de gargalhadas; 19. silêncio que se segue à trovoada; 20. exibição permanente da arcada dentária sem motivos justificados aos olhos dos desprovidos de inocência.

Do dicionário lúdico brasileiro, por André Gonçalves

25 janeiro, 2007

Bolero de Ravel - Andre Rieu

Simplesmente lindo...

24 janeiro, 2007

SEPARAÇÃO

Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo possível entre eles.

Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-iá haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.

Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido; sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu intimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.

Fechou os olhos, tentando adiantar-se á agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, quer o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoava com seus beijos e agasalhara no instante de amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias por ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.
De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...


Vinícius de Moraes

22 janeiro, 2007

"As pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra. Há níveis não-formulados, camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumprem e sobretudo emoções." - Caio Fernando Abreu

19 janeiro, 2007


Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
Mário Quintana - Espelho Mágico

15 janeiro, 2007


A constância é contrária à natureza, contrária à vida.
As únicas pessoas completamente constantes são os mortos.
Aldous Huxley