15 setembro, 2006

Cheiro

" E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, bem lá dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo. No tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. O que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que o amor não começa quando o nojo, higiene ou qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, senão só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou ate gostar, sem que isso seja necessariamente uma pervesão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se o amor for a coragem da prórpia merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também."
Pela noite/Estranho estrageiros - CFA

Ao mesmo tempo que digo e me esforço para ficar só, trancada nos meus sentimentos, no meu mundo ate tudo passar, ate tudo sumir das minhas lembranças, vem alguém querendo conhecer esse meu mundo que nem eu mesma conheço, querendo participar de uma alegria aparente.
Enquanto eu apenas estava fazendo da leitura e do cinema meus bons companheiros, enquanto não durmo, enquanto espero, para tirar qualquer tom de desespero, tentando cultivar a harmonia, tentando abrir a porta para alegria, quem sabe um dia... Aparece alguém.
Tenho medo. Muito medo.
Pois eu sempre me perco nas histórias de amor.
É possível gostar de alguém e ser feliz ao mesmo tempo?
Não sei.
Mas sei que não posso ficar com esse medo, as pessoas são diferentes eu sei disso. Pelo menos tentar e ver como são outras pessoas, outros cheiros, outros gostos.
Tenho que tentar e vai ser isso que vou fazer.
Respiro fundo mais uma vez.
Esqueço tudo o que passou mais uma vez.
Esqueço.
Recomeço.

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