22 fevereiro, 2007

AMOR

Talvez seja verdade que não existimos enquanto não houver quem veja que nós existimos, que não falamos enquanto não houver quem ouça o que estamos a dizer, no fundo, não estamos completamente vivos enquanto não formos amados. Poucas coisas são tão estimulantes e simultaneamente aterrorizadoras como saber que somos o objecto do amor de alguém, já que para quem não está completamente convencido de que merece ser amado, ser alvo de carinho é como receber uma grande honra sem perceber bem porquê. Assim que se resolve descobrir sinais de atração mútua, tudo o que o ser amado diz ou faz pode ser interpretado como significando praticamente o que se quiser. Só nos apaixonamos quando não sabemos por quem estamos apaixonar-nos. Se nos apaixonamos com tanta rapidez, talvez seja porque a vontade de amar precede o objeto do amor. Apaixonamo-nos na esperança de não encontrarmos no outro aquilo que sabemos existir em nós - covardia, fraqueza, preguiça, desonestidade, acomodação e estupidez.

Alain de Botton -" Ensaios sobre o amor"

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