16 outubro, 2007

In - potência.

Para falar a verdade, eu já não sei mais, não sei mais que nome tem essa cor que se apossa das coisas, que trespassa o tempo e pousa na luz, embaça os olhos, embota a fala e, ao mesmo tempo, são todas as palavras juntas, todos os infindáveis argumentos e razões, explica tudo porque faz com que não reste mais nada a explicar. Sinceramente não sei se sabes do que eu estou falando, mas intuo que sabes, só custa-me crer que sabes mesmo e, ainda assim, a isto segues quase incólume, quase surdo, quase cego, quase indiferente, a não ser pelos pequenos momentos de desespero, a não ser pelos raros instantes em que a pele racha como casca que se fere e verte água, em que a certeza da insuficiência e do amargo conseguem encaixar o golpe, em que vês teu rosto de relance muito mais velho no espelho, como se tudo isso não abrisse em ti enormes abismos, como se isso não te encravasse escuros, como se isso não fosse determinar aquilo que não vais mais poder voltar a ser. Eu já não sei qual seria a história, a frase, o que falta de mim a mostrar, o que ainda resta inaudito que poderia soar como um abre-te-sésamo, mas é certo que em mim algo lateja uma dor estranha e inflamada, certeza enterrada sob as unhas, uma intuição insone e palpável que me faz sentir teus olhos abertos no escuro do quarto, tantas horas depois da noite, famintos dos meus, teu corpo deserto e claro e tua pele morna sem descanso longe das minhas mãos. E então meu corpo é um ninho repleto da tua falta, minha boca se faz triste sem a tua boca e meus olhos sentem a fome implacável dos teus. E, embora eu já não saiba mais, sei.

Patrícia Antoniete Ferreira

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