Colheita
Eu procurava o amor em jardins de cactus.
Vinha buscando o fruto em árvores erradas, e nas mordidas sentia o gosto azedo, que amarga no fim da boca.
Colhi amores podres, comidos pelo tempo e dor.
Foi preciso paciência – e um outro tempo – amadurecendo um fruto para colhê-lo doce, suave, terno e delicado.
Simples como naturalmente é.
Eu imaginava haver segredos por trás dos espinhos.
Mas é puro acaso que amores e espinhos se encontrem em botões abertos ou fechados.
A rima entre amor e dor é armadilha.
O verdadeiro fruto está ao alcance das mãos – mas é tão rasteiro, que quase não se vê.
É preciso passear sem fome para enxergá-lo redondo, vermelho.
Para então mordê-lo distraído como numa tarde de chuva
(Cris Guerra)
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