-Ora! A senhora não sabe que há almas que vivem atormentadas? Precisam sucessivamente do sonho e da ação, das paixões mais puras, dos gozos mais furiosos, e jogam-se em todo tipo de fantasia, de loucuras.
-Nós mulheres, não temos nem essa distração!
-Triste distração, pois nela não encontramos a felicidade.
-Mas não a encontramos nunca?
-Sim, um dia a encontramos. Ela chega um dia, um dia de repente, quando já estamos ficando deseperados. Então os horizontes se entreabrem, é como se uma voz gritasse: "Ei-la!" Sentimos nossa a necessidade de fazer a pessoa a confidência de nossa vida; de dar-lhe tudo, de sacrificar-lhe tudo! Isso não se explica, mas o adivinhamos. Já avistamos isso em sonhos. Enfim, ele está ali, o tesouro que tanto buscamos; ele brilha, faísca. No entanto, ainda duvidamos, não ousamos acreditar; ficamos deslumbrados, como se saíssemos das trevas à luz.
Dialógo entre Rodolphe e Madame Bovary.
Madame Bovary - Gustave Flaubert (1857)
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