03 março, 2013

O mundo é uma ciranda



Uma ciranda errada. Uma ciranda mal feita, mal conduzida, mal vista.
Uma ciranda da qual você é obrigado a participar. Não pode ficar de fora da brincadeira! Vão te puxar pelo braço e gritar para que você entre no grupo, entre na roda, aumente o círculo, tropece com todos.
Você vai bater os pés dizendo que prefere ficar só olhando, que prefere ficar sentado na grama, brincando com uma pequena folha enquanto assiste todos girarem até cair. No fim, você vai ceder, vai entrar na dança e, por pior que seja admitir, vai gostar, vai querer de novo e logo começará a guiar a brincadeira.
Vai chegar em casa com o pensamento em guerra entre as vontades que você deixou para trás e felicidade instantânea que a ciranda do dia lhe proporcionou.
Vai colocar as mãos nos bolsos e notar tudo que perdeu enquanto girava e sorria lá fora com os outros. Vai se desesperar, mas não vai voltar atrás! Está tarde, você está cansado e, no fundo, vai se dar conta de que aquelas coisas todas só pesavam no seu bolso e o atrapalhavam na hora de girar. O atrapalhavam na hora da ciranda.
Com os bolsos vazios, poderá brincar mais rápido da próxima vez, poderá caminhar e entrar na ciranda ao lado, poderá aproveitar ao máximo todos os giros e tombos.
Quando se der conta, terá encontrado coisas que outros também deixaram cair do bolso e terá guardado para você, enchido o bolso novamente. Atrapalhado a brincadeira de novo, seu tolo!
Mas e daí? Você já não gosta mais de brincar mesmo.
http://www.ordinarios.com.br

25 janeiro, 2013



"A Julieta era uma idiota. Porque ela se apaixona por aquele cara que ela sabe que não pode ter. Todo mundo acha isso tão romântico: Romeu e Julieta, amor verdadeiro, que triste. Se Julieta foi burra o bastante para se apaixonar pelo inimigo, beber uma garrafa de veneno e ir repousar num mausoléu, então ela teve o que merecia, e até hoje, eu acredito que, na maior parte do tempo, o amor é uma questão de escolhas. É uma questão de tirar os venenos e as adagas da frente e criar o seu próprio final feliz. Você pode desperdiçar sua vida construindo barreiras e fronteiras ou então você pode viver ultrapassando-as. Mas há algumas que são perigosas demais para serem cruzadas. E aí vai o que eu sei: se você estiver disposto a se arriscar, a vista do outro lado é espetacular."

Grey's Anatomy

26 julho, 2012

Para esquecer


estou há dias adiando esquecer uma história, enterrá-la, mudar de assunto, mas não sem lamentar a decisão de esquecer. quando penso que quase, bem quase dentro de mim toda já está tudo pronto para que isso aconteça, a história volta sozinha, sem que eu a chame, busque ou a amarre aos meus pés. então fico mais um pouco até começar a deixá-la ir embora outra vez. a vida, às vezes, nos desorienta demais. não há pergunta nem resposta que baste nessa hora, só uma falta de sossego sem precedentes. eu quero esquecer porque não quero que doa lá na frente ou logo mais. quero esquecer porque desconfio de seu vazio e me sinto tola. mas é difícil sepultar uma dúvida quando nesta contém desejo, é difícil esperar a semana que vem e depois a outra e o tempo que, sozinho, transforma tudo em passado. é doloroso suspeitar que algo que gostaríamos imensamente de possuir e viver, talvez não seja pra gente, não possa em tempo algum levar nosso nome. é um querer cego e sem sentido aparente, mas tão prazeroso de sentir que dá pena deixar pra lá logo de uma vez pra nunca mais. e então, vamos adiando. pois quando decidimos finalmente esquecer, parece que perdemos algo, um pedaço fica solto no mundo, sem dono e sem proteção e, dependendo da situação, ficamos pensando por um longo tempo como essa parte deixada estaria se ainda estivesse por perto nos aquecendo mesmo que apenas em pensamento. é de enlouquecer esse negócio de desistir sem ter certeza absoluta. dá medo e dá saudade antecipada. isso que estou escrevendo não é propriamente um texto literário como são todos os outros deste blog que vos fala, mas, sim, um desabafo, real e sincero, de alguém – que sou eu, que espera pra mudar de idéia e deixar tudo por conta do esquecimento, mas não consegue


"Quem é feliz não conta, não espalha, não grita aos quatro cantos. Quem é feliz, satisfaze-se por ser. E sabe que felicidade anda coladinha na inveja. Quem é feliz não precisa provar nada, simplesmente é. As pessoas felizes demais nunca me passaram confiança. Essa coisa de que a vida é uma festa e não existe nada errado, não me brilha aos olhos. Feliz é quem conhece o lado ruim e o respeita. Feliz é quem já foi infeliz. Somente quem já foi infeliz pode entender que a tristeza traz um punhado muito bom de aprendizados. Felicidade não é sobre quem grita mais alto; é sobre quem sorri mais fundo."

Clarissa Corrêa

12 junho, 2012

Feliz dia dos namorados! =)


Colheita

Eu procurava o amor em jardins de cactus. 
Vinha buscando o fruto em árvores erradas, e nas mordidas sentia o gosto azedo, que amarga no fim da boca. 
Colhi amores podres, comidos pelo tempo e dor.
Foi preciso paciência – e um outro tempo – amadurecendo um fruto para colhê-lo doce, suave, terno e delicado.
Simples como naturalmente é.
Eu imaginava haver segredos por trás dos espinhos. 
Mas é puro acaso que amores e espinhos se encontrem em botões abertos ou fechados. 
A rima entre amor e dor é armadilha.
O verdadeiro fruto está ao alcance das mãos – mas é tão rasteiro, que quase não se vê. 
É preciso passear sem fome para enxergá-lo redondo, vermelho. 
Para então mordê-lo distraído como numa tarde de chuva

(Cris Guerra)

22 fevereiro, 2012


"Se você não se atrasar demais, posso te esperar por toda a minha vida"

Oscar Wilde

14 fevereiro, 2012

O amor acaba

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.


O Amor Acaba - Crônicas Líricas e Existenciais

27 janeiro, 2012

A voz do silêncio - Marta Medeiros

Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem.

19 janeiro, 2012



“Ela olha para ela em vez de olhar para ti, e por isso não te conhece.Durante as duas ou três pequenas explosões de paixão que ela se permitiu a teu favor, ela, por um grande esforço de imaginação, viu em ti o herói dos seus sonhos, e não tu mesmo como realmente és.” (diz o príncipe Korasoff a Julien Sorel, sobre a sua amada)
(“O Vermelho e o Negro”, de Stendhal, sec. XVIII-XIX).

17 janeiro, 2012

Cinco sentidos - Domenico

Olha o céu

Não sei dizer se a chuva traz você

Ou se é só o vento que atravessa meu pensamento

E aqui me deixa sem encontrar o meu caminho de voltar

Sai o sol, o dia vem

Eu não penso em mais ninguém

Meus cinco sentidos só me deixam mais sozinho

Tudo que fazem é me lembrar que estou distante de você

11 dezembro, 2011

Sobre a Angústia

PORQUE A ANGÚSTIA, MEU AMOR, É ESSA TRISTEZA SEM ROSTO, SEM ACONTECIMENTO, SEM DESENCADEADOR, SEM RÉU. É DE REPENTE NÃO CABER EM LUGAR ALGUM E ESCREVER ESSE AMONTOADO DE PALAVRAS MAGOADAS COM NINGUÉM. ESSA ANGÚSTIA A GENTE NÃO PUXA, NÃO ESCOLHE, ELA ENTRA NA GENTE ASSIM COMO A NOITE CAINDO LENTA E DEFINITIVA. E ELA APERTA TEU PEITO COM TODA DISPOSIÇÃO DO MUNDO. ANGÚSTIA TE TIRA DO MUNDO DE FORA, TE DEIXA ENCOLHIDO OLHANDO PRA DENTRO, PORQUE NÃO SE PODE APONTAR O DEDO E NEM COLOCAR A CULPA EM NINGUÉM, ELA SIMPLESMENTE É ESSE MAL-ESTAR QUE TE FAZ QUERER MUDAR TUDO DE LUGAR E SE FAZER ALGUNS AJUSTES. VOCÊ NÃO VAI CONSEGUIR SEQUER FINGIR QUE ESTÁ BEM SE ELA TE ABRAÇAR. ANGÚSTIA TE DEIXA ENFASTIADO COM A PRÓPRIA ROTINA, COM O SEU JEITO ANTIGO DE CONDUZIR AS COISAS. ELA TE PEDE MORTE E RENOVAÇÃO. ELA TE IMPÕE UMA PERDA IRREMEDIÁVEL DO QUE VOCÊ ERA ANTES, ELA TE FORÇA A TROCAR DE PELE COMO SE VOCÊ TIVESSE TOMADO MUITO SOL …SEM PROTEÇÃO. O QUE A ANGÚSTIA QUER DE VOCÊ É A DESACELERAÇÃO PRA PARAR E CONTEMPLAR E AGIR DE ACORDO COM O QUE PEDE A TUA SEDE DE ALMA…

ELA VEM PRA GRITAR AQUILO QUE SEU CORAÇÃO SUSSURROU TANTAS VEZES NUM MOMENTO EM QUE VOCÊ PENSAVA ESTAR OCUPADO DEMAIS PARA OUVIR.

- Marla de Queiroz

29 novembro, 2011

Tudo passa...

Final de ano para me recompor,
esquecer o que passou,
aceitar o que virá,
me fortalecer pra não cometer os mesmos erros...
E ser feliz!

25 novembro, 2011

Já posso morrer!

‎"Moça, Olha só, o que eu te escrevi
É preciso força pra sonhar e perceber
Que a estrada vai além do que se vê"
Marcelo Camelo

08 outubro, 2011

"Apaga-me os olhos, ainda posso ver-te. Tranca-me os ouvidos, ainda posso ouvir-te, e sem pés posso ainda ir para ti, e sem boca posso ainda invocar-te. Quebra-me os ossos, e posso apertar-te com o coração como com a mão, tapa-me o coração, e o cérebro baterá, e se me deitares fogo ao cérebro, hei-de continuar a trazer-te no sangue."


Rainer Marie Rilke, in Livro das Horas

07 outubro, 2011

Chamo-Te




Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que não quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.




Sophia de Mello Breyner Andresen

29 setembro, 2011

Pare de viver sua vida como se estivesse num filme.
Pare de idealizar seu amor em vez de encontrá-lo.
O amor não é sempre como um raio, as vezes é só uma escolha.
Talvez o amor verdadeiro seja uma decisão.
Decisão de correr risco com alguém.
Dar-se, sem se preocupar se vão dar algo em troca ou magoar você ou se é a pessoa certa.
Talvez o amor não seja algo que aconteca, talvez seja apenas uma escolha.

(Amor e outros Desastres)

21 setembro, 2011

"Ás vezes é preciso dormir, dormir muito. Não pra fugir, mas pra descansar a alma dos sentimentos. Quem nasceu com a sensibilidade exacerbada sabe quão difícil é engolir a vida. Porque tudo, absolutamente tudo devora a gente. Inteira."

Marla de Queiroz

05 setembro, 2011

Mudanças

Mudanças de planos.
Mudanças de ares.
Mudança de atitude.
Mudança de sentimento.






26 agosto, 2011

Estou apaixonada!

Pensei pensei pensei...
E percebi que não adianta eu me segurar, me controlar e não me apaixonar. Fazendo isso só estou me privando de viver e sentir coisas fantásticas. Não importa se a outra pessoa não sente a mesma coisa, não importa se ela não sabe demonstrar. O que importa é o que eu vou sentir, o que faz o meu coração bater mais forte, me faz tremer, suar, esperar por ele... E sentir tudo isso é maravilhoso. Já me apaixonei muitas vezes, já sofri tantas outras, e estou aqui firme e forte (oi?), não morri e não vai ser mais um tombo, caso ele exista, que vai me derrubar de vez.
Se tem uma coisa que sou é forte e persistente. Busco e sempre vou buscar o amor em minha vida. Essa felicidade que sempre vai me tornar ainda mais feliz.
Vou viver assim daqui pra frente, sem medo de me machucar, sofrer ou fazer papel de ridícula.
Vou viver tudo o que esse relacionamento vai me dar, me ensinar... independente do que quer que seja. Sorrisos ou lágrimas.

08 agosto, 2011

Lonely...

Quando você percebe que a única pessoa que nunca vai te deixar só, é você mesmo...

30 julho, 2011

"Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós."

Manoel de Barros

20 julho, 2011

Esta Velha Angústia - Álvaro de Campos

Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer -
Júpiter, Jeová, a Humanidade -
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!

05 julho, 2011

Amar prescinde de entendimento

"Não consigo imaginar nada mais satisfatório do que amar, e mesmo não sabendo o que o amor significa, sei o que representa. É o que nos faz, no meio de uma multidão, destacar alguém que se torna essencial para nosso bem - estar, e o nosso para ele. É receber uma atenção exclusiva e ofertá-la na mesma medida. Ter uma intimidade milagrosa com a alma de alguém, com o corpo de alguém, e abrir-se para essa mesma pessoas de um jeito que não se conseguiria jamais abrir para si mesmo, porque só o outro é que tem a chave desse cofre. O amor é uma subversão, e seu vigor nunca será encontrado em amizades ou parentescos. Todas as palavras já foram usadas para defini-lo: magia, surpresa, visceralidade, entrega, conforto, poesia, aposta, amasso, gozo.
Amar prescinde de entendimento. Por isso não sei amar, porque sou viciada em entender."


Martha Medeiros em Fora de Mim

15 junho, 2011

"Com a lucidez dos embriagados, haviam-se reconhecido desde o primeiro momento. Ou talvez estivessem realmente destinados um ao outro, e mesmo Sem o álcool, numa rua repleta saberiam encontrar-se. O fulgor nos olhos e a incerteza intensificada nos passos fora a pergunta de um e a resposta de outro”

Caio Fernando Abreu in O Inventário do Ir-remediável

07 junho, 2011

"Todo esse tempo de dor que eu passei andando por aí, todo esse tempo que eu tentei gritar a palavra amor bem alto. Pra ver se me convencia de uma vez do significado implícito nessas quatro letras. Esfregando na cara das pessoas as coisas boas que eu tinha, mas não conseguia mostrar. Até que o tempo enfim foi me vencendo, sob o olhar condescendente das pessoas que eu mais detestava. É duro reconhecer que todo esse sofrimento foi em vão, porque não existe vida quando a gente está triste e só e ninguém quer saber de quem está por baixo. Não vale a pena sofrer, meu amor, de tudo o que eu passei, essa foi a única lição."


Cazuza

04 junho, 2011



Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura. Grave e metódica até à mania, atenta a todas as subtilezas dum raciocínio claro e lúcido, não deixo, no entanto, de ser uma espécie de D. Quixote fêmea a combater moinhos de vento, quimérica e fantástica, sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida, num dom de mim própria que não acaba, que não desfalece, que não cansa!
Florbela Espanca